Foi com grande expectativa que a comunidade da Universidade Federal do Ceará (UFC) retomou as atividades presenciais, em março último, após dois anos de atuação remota. No entanto, estudantes, professores e servidores técnico-administrativos não encontraram um cenário particularmente acolhedor ao voltarem para a sala de aula. No Instituto de Educação Física e Esportes (IEFES), a precária infraestrutura continuava lá. Após receber denúncias de estudantes e professores que trabalham no Campus do Pici, a ADUFC fez uma visita ao prédio e constatou construções abandonadas, relatos de assaltos, piscinas olímpicas cobertas de lodo e infiltrações e pista de atletismo inaugurada pela reitoria, mas sem uso.
Ginásio gímnico que seria construído em padrão olímpico está abandonado
Logo ao chegar ao instituto, é possível visualizar um grande prédio abandonado que deveria abrigar o ginásio gímnico em padrão olímpico e a quadra poliesportiva para prática de modalidades como vôlei, futebol e basquete. Desde que a empresa abandonou a obra, nada foi feito. O espaço tornou-se um símbolo da situação do IEFES, que hoje se encontra sucateado, a exemplo de outros equipamentos da universidade que a ADUFC tem visitado para publicar esta série de reportagens. No último dia 20 de maio, o sindicato denunciou condição similar vivenciada no Instituto de Cultura e Arte (ICA).
Prédio onde seriam construídos dormitórios é um dos que estão abandonados
Diante da intransigência da atual reitoria da UFC à comunidade acadêmica, a ADUFC optou por preservar nestas reportagens a identidade das fontes, que temem a perseguição do interventor, prática que já se tornou frequente. Além do espaço gímnico, outro ginásio está interditado por oferecer risco aos usuários. Este chegou até a ser usado por estudantes e professores, mas já está inativo há muitos anos. O prédio que seria construído ao lado e abrigaria dormitórios – e depois se cogitou usar como gabinetes para professores – também está inacabado, completando o cenário de abandono no local. Com tantos equipamentos interditados, muitas aulas acabam ocorrendo na Quadra do CEU, no Campus do Benfica.
Ginásio antigo do IEFES está interditado por oferecer risco à comunidade
Próximo aos três prédios interditados, está o campo de futebol, que também está em condições bastante precárias. O mato cresce sem poda e não há um funcionário responsável pela manutenção. A reivindicação de estudantes e professores é a instalação de grama sintética, mas o pleito nunca foi atendido. Sempre que é necessário cortar a grama, o instituto aciona a Prefeitura de Gestão Ambiental da universidade, via UFC Infra, mas as respostas costumam ser demoradas. A última solicitação feita no início do semestre, em março, só foi atendida há cerca de duas semanas.
Mato do campo de futebol cresce sem poda e não há um funcionário responsável pela manutenção
Durante a noite, são muitos os relatos de roubos nesse ambiente nada acolhedor formado por três prédios abandonados. Na última quarta-feira (1º), uma estudante do curso chegou a ser assaltada enquanto andava para o Restaurante Universitário (RU), por volta das 19h. A orientação entre os professores é para que as aulas não terminem muito tarde, pensando na segurança de todos que frequentam o local. Entretanto, a medida tem se mostrado insuficiente, uma vez que a aluna foi abordada ainda no início de noite. O mais recente episódio ampliou a sensação de insegurança na comunidade universitária.
Piscinas olímpicas apresentam lodo, infiltrações e entorno enferrujado
Não é só a área externa ao bloco didático do IEFES que enfrenta situação gravíssima. No prédio que sedia as salas de aula, a ADUFC presenciou duas piscinas olímpicas em estado de abandono, uma de 25 metros e outra de 50 metros. A maior está interditada e hoje só serve para acumular água nos dias de chuva. Já a de 25 metros continua em uso por estudantes e professores, mas em condições inadequadas, pois apresenta muitas infiltrações e precisa de uma reforma urgente. O entorno das duas piscinas está comprometido, cheio de lodo e com grades enferrujadas. Algumas salas de aula também estão com infiltrações.
Reitoria inaugurou obras sem condições de uso
A pista de atletismo do IEFES finalmente está sendo pintada e a promessa é de que seja entregue em breve. Isso ocorre após quase um ano da inauguração oficial do espaço pela reitoria. Em 26 de agosto de 2021, a UFC publicou em seu site uma matéria dando a pista por inaugurada, com foto da comitiva de Cândido Albuquerque celebrando a “entrega”, mas desde então o equipamento nunca foi usado. A pista foi reformada para atender aos requisitos exigidos para eventos internacionais. Agora, o que preocupa funcionários é a preservação do local, que não está prevista. “O ideal seria ter um jardineiro para fazer a manutenção”, foi um dos relatos que a ADUFC ouviu no local.
Pista de atletismo foi inaugurada pela reitoria em agosto de 2021, mas permanece sem uso
A maioria dessas obras paralisadas e nunca entregues à comunidade universitária tem projetos de captação de recursos para que sejam executadas. Muitas promessas também já foram feitas tanto pela reitoria da UFC como pelo Ministério da Educação (MEC), responsável pela liberação da verba – especialmente na gestão de Milton Ribeiro, ex-titular da pasta. Na prática, entretanto, nada foi feito, e o IEFES continua a esperar. Com o anúncio recente de corte bilionário no MEC atingindo as universidades federais, a expectativa de que esses problemas sejam solucionados só diminui.