O Prof. Lamartine Soares (SMA/UFC) fez uma visita técnica para avaliar uma árvore da ADUFC no dia 22/8 (Foto: Nah Jereissati/ADUFC)
A Universidade Federal do Ceará (UFC) inaugurou, em março deste ano, após aprovação no Conselho Universitário (CONSUNI), a sua Secretaria de Meio Ambiente. A iniciativa fortalece o debate sobre o papel da academia no enfrentamento à iminente crise climática vivenciada no planeta e é encarada por docentes e pesquisadores ouvidos pela ADUFC como um espaço a mais para implicar a universidade na pauta de uma educação ambiental verdadeiramente crítica e comprometida com a transformação social.
A diretora da Secretaria de Meio Ambiente da UFC, Profª. Aliny Abreu, explica a importância de envolver toda a comunidade na educação e conscientização ambiental para que se pense não apenas em novas tecnologias, metodologias e incorporação desses passivos em uma finalidade mais sustentável, mas também em evitar a produção na sua origem. “O cuidado e a valorização do meio ambiente só se dão de maneira coletiva, não adianta apenas um grupo realizar ações em prol do meio ambiente. E esse continua sendo o maior desafio”, avalia.
A referida secretaria da UFC, conforme aponta Aliny Abreu, tem dialogado com diferentes setores e órgãos municipais, estaduais e federais, por meio de parcerias com a Secretaria de Proteção Animal (Sepa), a Unidade de Controle de Zoonoses (UCZ), a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), a Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema), a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). As competências originais da pasta são gestão de resíduos líquidos e sólidos; biodiversidade e recursos naturais; educação ambiental; e causa animal/saúde única.
Também tem se empenhado a SMA/UFC em fortalecer as diferentes ações de extensão que já desenvolvem atividades de educação ambiental e atender diretamente à comunidade externa, como ocorreu na ocasião da avaliação técnica de uma árvore na ADUFC, realizada no último dia 22 de agosto a pedido da Diretoria da entidade, e a organização da ARIE Fazenda Raposo, que se tornará um espaço importante de educação ambiental na Região Metropolitana de Fortaleza.
“A UFC é uma grande comunidade, com influências e participações em diferentes esferas da sociedade, ou seja, tudo que fazemos dentro da UFC reflete fora das nossas quatro paredes. (…) Em relação a ampliar os conhecimentos e a participação da sociedade, o primeiro e mais importante passo é entregar à sociedade profissionais que possam fazer a diferença, independentemente do curso, nas pautas ambientais. E, nesse sentido, a criação da Secretaria de Meio Ambiente contribuirá com isso”, opina o coordenador de Educação Ambiental da SMA/UFC, Prof. Lamartine Soares.
A secretária-geral da ADUFC e coordenadora do Curso de Economia Ecológica da UFC, Profª. Maria Inês Escobar, alerta que a tarefa central da Secretaria de Meio Ambiente da UFC é lembrar a todos que a vida está em perigo. “Que ela possa abrigar nossos desejos e projetos de mais árvores, de corpos hídricos limpos e protegidos, de banimento de materiais plásticos de uso único. Que possa multiplicar a beleza cênica dos nossos campi. Que possa formar agentes ambientais em parceria com os cursos e que leve a UFC a ser exemplo na transição ambiental necessária e urgente”, reflete.
Universidade tem papel fundamental em desmentir o capitalismo verde
O Prof. Fábio Sobral, do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFC (Prodema), destaca que há diversos tipos de educação ambiental, mas tem prevalecido a que atribui a indivíduos isolados a solução dos problemas de destruição da natureza. “São pequenas medidas pessoais que você deve tomar e já fez a sua parte. Claro que precisamos tomar essas medidas, mas é preciso que haja uma educação ambiental essencialmente contra o consumismo”, diz. “A universidade deve adotar aquela que de fato contribui com a recuperação de áreas degradadas, o respeito à natureza, a não destruição do meio ambiente por outros interesses que não os naturais e que preserve, inclusive, a natureza para que os seres humanos usufruam”, acrescenta.
Fábio Sobral tece críticas ao que se costuma chamar de “capitalismo verde” – a ideia de que é possível conviver com a natureza avançando permanentemente em busca de mais lucros. “Querem lucros infinitos em um planeta que é finito. São duas condições que não podem coexistir”, assevera. “Ou a gente encontra uma nova forma de produzir os bens e não utilizar devastando, de não obter lucro acima de qualquer coisa ou será impossível a vida para boa parte da espécie humana. É nítido que a gente caminha para um colapso ambiental”, alerta.
Também corrobora a ideia o Prof. Aécio Oliveira, pesquisador do Programa Cientista Chefe e ex-coordenador do Curso de Economia Ecológica da UFC. “O capitalismo verde é uma farsa, não questiona o que a própria empresa faz, não percebe que a própria empresa é um problema na emissão de gases de efeito estufa, de geração de resíduos, muitas vezes tóxicos. Tudo isso vem da atividade econômica em geral”, analisa o docente, que também atua como professor aposentado e voluntário no Prodema/UFC.
O docente diz acreditar que a criação da SMA/UFC é um espaço que se abre para que o pensamento crítico reverbere. “A universidade deve estimular a realização de pesquisas, publicação de textos, realizar eventos anuais, fazer uma ampla discussão e divulgar o resultado dessas discussões, envolvendo sempre as pessoas que fazem a Economia Ecológica, que têm um viés crítico do que está acontecendo no mundo”, sugere. “É preciso, inclusive, desmistificar uma preocupação interna na própria universidade de que é possível a tecnologia resolver esses problemas. É preciso discutir, de maneira radical, como funciona esse sistema, o capitalismo, para que as pessoas percebam que é uma crise irreversível caso os processos econômicos continuem como são”, pontua.
Fábio Sobral defende que é preciso que a universidade vá às comunidades e amplie seu escopo de atuação. “A universidade deveria ter um papel muito forte na recuperação de áreas degradadas, no convencimento de governos a ajudarem pessoas em situação vulnerável de fome, de sede, de poluição, de moradia, de enchentes. A universidade deve pensar soluções adequadas aos nossos problemas”, pontua.