Homenagem recebida pelo NUCEPEC em sessão solene da Câmara Municipal de Fortaleza, no dia 2 de agosto
Por Ângela Pinheiro
Escrevo este texto encharcada de muitas emoções, ao (re)lembrar tantas e tantas vivências que temos tido na existência do Núcleo Cearense de Estudos e Pesquisas Sobre a Criança (NUCEPEC) – espaço pungente e pioneiro, no ambiente acadêmico local e nacional, desde a década de 1980, em defesa de vida digna, de respeito, de reconhecimento de crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, sujeitos políticos, de escolhas, da história e de histórias. Aflora em mim, uma vez mais, a indignação diante de tantas inações, omissões e esquecimentos, por parte da grande maioria de agentes públicos, de suas responsabilidades intransferíveis diante do universos das infâncias e adolescências no Estado e no País. Se a indignação nos maltrata por dentro, também nos impulsiona, nos desassossega, para agir, para ocupar, ininterruptamente, ao longo das últimas quatro décadas, espaços na cena pública e participar legitimamente da construção da agenda pública.
Manifesta-se, igualmente, em mim o intenso sentimento que decorre da construção de tantos vínculos entre os que vivemos a experiência de ser nucepequianos/es/as! Quantas profundas e duradouras amizades se firmaram, se firmam e hão de se firmar entre nós! E mesmo alguns casamentos se deram, gerando, assim, proles nucepequianas! Como costumamos dizer entre nós: não existe ex-nucepequian@, pois, uma vez nucepequian@, e assim sempre o seremos. Tudo isso se deu, se dá e continuará a ocorrer no espaço do NUCEPEC, entre encontros e afetos, lutas e aprendizados, diálogos e compartilhamentos.
Eis o nosso NUCEPEC de tantos e tantas de nós, seus integrantes – e somos quase 400, entre técnicos administrativos da Educação, estudantes e professores, de diversificados cursos da UFC e de outras instituições de ensino superior, de tantas parcerias e apoiadores! Chega, neste 2 de agosto de 2024, forjado na experiência e na renovação, a quarenta anos de existência! Quarenta anos de tanta presença na cena pública, de vivências democráticas cotidianas, de tantos afetos e vínculos, de tantos acertos e equívocos, com o propósito claro, sempre, em nossas rotinas e nos nossos horizontes: a defesa intransigente de vida digna, de todos os direitos para todas as crianças e adolescentes!
Para quem está desde o início da trajetória do NUCEPEC, do Nuças, como costumamos afetuosamente a ele nos referir, há, fincada em nós e entre nós, uma verdadeira enxurrada de sentimentos, lembranças, histórias vividas e por viver.
Sim, o NUCEPEC tem sua travessia entrelaçada com as lutas, no Ceará e no Brasil, pela ruptura da famigerada Doutrina da Situação Irregular, e, simultaneamente, pela indispensável, ética e politicamente, consolidção da Doutrina da Proteção Integral para todas as crianças e adolescentes como sujeitos de todos os direitos, pessoas em condição especial de desenvolvimento, e com prioridade absoluta nas políticas e orçamentos públicos. Sim, bem sabemos e sentimos que continuamos a vivenciar a disputa, por vezes muito acirrada, entre diferentes significações e práticas voltadas para o segmento infanto-juvenil, com consequências alvissareiras, e outras que contribuem para vulnerabilizações as mais diversas. São expressões das abissais desigualdades estruturais, que perduram entre nós, afetando em demasia a grande maioria das populações em nosso País.
Se completarmos 40 anos é motivo mais que suficiente para celebrações por tudo já vivido e compartilhado, guardamos em nós, em nossas interações e em nossas incidências, disposição, coragem e amorosidade para seguir adiante por, pelo menos, mais 40 anos!
Como gosta de dizer a Margarida Marques, “os do bem também conspiram”. Portanto, vida longa ao NUCEPEC!
*Ângela Pinheiro é professora da UFC, integrante do NUCEPEC desde a sua fundação, em 1984. Contatos: a3pinheiro@gmail.com; @a3pinheironucepec