O lançamento contou com exposição fotográfica reunindo registros históricos feitos pela ADUFC nos últimos quatro anos (Fotos: Nah Jereissati/ADUFC)
Após quatro anos de luta sem trégua em defesa da democracia, a ADUFC lançou ontem (31) o livro “Intervenção na Universidade Federal do Ceará (2019-2023): Autoritarismo e Resistência”, um dossiê de autoria do sindicato que sistematiza os principais fatos desse período vivenciado pela comunidade acadêmica. Prestigiaram o momento integrantes das três últimas diretorias da ADUFC, que atravessaram esse momento de intervencionismo na UFC, professores/as, estudantes, técnico-administrativos. Também fizeram falas na ocasião as estudantes Dandahra Cavalcante (UFC) e Sarah Rodrigues (IFCE); Cássia Araújo (TAE), representando o SINTUFCE; e, ao final, o reitor Custódio Almeida, que estava presente no lançamento. O evento contou com exposição fotográfica reunindo registros históricos feitos pela ADUFC que simbolizam a resistência da comunidade da UFC nos últimos quatro anos.
A publicação reúne um compilado de textos produzidos pela ADUFC entre 2019 e 2023 para denunciar à sociedade e aos órgãos competentes os sucessivos atos antidemocráticos e ilegítimos da última reitoria da UFC. São notícias, séries especiais de reportagens, notas de repúdio e textos de opinião que desenham essa fase nefasta na universidade. “Foi muita luta, nós aprendemos sentindo na própria carne por que a autonomia e a gestão democrática são princípios fundamentais”, destacou a presidenta da ADUFC, Profª. Irenísia Oliveira, que vivenciou os quatro anos de intervenção na Universidade atuando na Diretoria do Sindicato – ela foi vice-presidente nas duas gestões passadas, de 2019 a 2023. “Nós sabíamos que contra o fascismo não há diálogo, a luta é sem trégua. E nunca recuamos. Para nós, a intervenção nunca se naturalizou”, acrescentou.
Presidente da ADUFC no quadriênio 2019-2023, o Prof. Bruno Rocha, atual pró-reitor de Assistência Estudantil, fez um resgate da luta histórica do Sindicato contra a investida bolsonarista na universidade desde o dia 1 de intervenção, quando o interventor foi recebido com um grande ato seguido de ocupação da reitoria. O docente também demarcou a decisão política da ADUFC de compreender o papel na luta política de uma comunicação sindical democrática e popular fortalecida. “Isso possibilitou que as nossas vozes denunciando a intervenção chegassem a toda a sociedade, aos jornais, dentro e fora da universidade”, destacou.
Para o reitor Custódio Almeida, a ADUFC firmou-se como polo de resistência contra o intervencionismo na UFC e se consolidou como “a instituição mais resistente ao bolsonarismo no Ceará”. Também reforçou a importância da publicação recém-lançada pelo Sindicato para a preservação da memória da universidade e como ponto de atenção para a defesa permanente da democracia. “Que esse livro seja o mote para que a gente continue resistindo e brigando para que todo preconceito vá embora. Temos um trabalho muito grande de inclusão para fazer daqui pra frente”, disse. Ele ainda reconheceu o Sindicato como espaço de acolhimento aos estudantes, fortemente perseguidos pela última reitoria.
Na avaliação da Profª. Irenísia Oliveira, este é um momento pedagógico na própria história do Sindicato. Ela lembrou de algumas gestões da ADUFC anteriores à intervenção que erraram ao se tornar um “anexo da reitoria”. O extremo oposto, a perseguição da qual a entidade foi vítima por parte da administração superior passada, também ficou para trás com a posse de um reitor eleito democraticamente. “Agora temos a chance de estabelecer uma relação exemplar, pela primeira vez, entre sindicato e universidade (reitoria)”, pontuou.
Exemplares do livro “Intervenção na Universidade Federal do Ceará (2019-2023): Autoritarismo e Resistência” foram distribuídos gratuitamente durante o lançamento e enviados para bibliotecas, sindicatos, universidades e movimentos sociais que atuaram juntamente com a ADUFC no combate à intervenção federal.
MEMÓRIA – Em agosto de 2019, Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, impôs uma intervenção federal na UFC ao nomear José Cândido Lustosa Bittencourt de Albuquerque para a reitoria à revelia da vontade da comunidade universitária – ele obteve apenas 4,6% dos votos na consulta. O reitor eleito naquele ano, Custódio Almeida, conquistou 56,4% dos votos e a inequívoca indicação dos três segmentos (professores, técnico-administrativos e estudantes), mas foi preterido sem qualquer justificativa. Cândido e outros interventores nomeados por Bolsonaro representaram um legado grotesco das piores gestões do Ministério da Educação (MEC) para as universidades públicas.