As recorrentes atitudes antidemocráticas e antissindicais promovidas pela reitoria interventora da Universidade Federal do Ceará (UFC) seguem pautando a luta da comunidade acadêmica da instituição. Convidadas das três entidades representativas discutiram o tema no programa Mundo do Trabalho, nesta terça-feira (5/4), na Rádio Universitária FM. O debate foi gravado na véspera, com transmissão ao vivo na página do programa no Facebook, e participação da vice-presidente da ADUFC-Sindicato, Prof. Irenísia Oliveira.
Representando os servidores técnico-administrativos, participou a coordenadora-geral da SINTUFCE, Heveline Ribeiro. Já na voz dos estudantes, uma das diretoras do DCE e da UNE, Stefany Tavares – também aluna de Pedagogia da UFC. As três convidadas conversaram com o apresentador do programa, jornalista Márcio Rodrigues, sobre questões relativas ao retorno presencial – sem a devida preparação – às atividades na universidade; além de assuntos correlatos, como problemas na assistência estudantil e passaporte vacinal, constantemente denunciados pelo sindicato e comunidade universitária em geral.
O “estilo autoritário” do reitor-interventor da UFC, Cândido Albuquerque, foi enfatizado pelas três participantes, que destacaram as constantes tentativas de esvaziamento dos conselhos universitários (CEPE e CONSUNI). A exemplo de regramentos monocráticos para gerir certos aspectos da vida universitária, em que o próprio interventor assinava portarias e provimentos, como destacou a Prof. Irenísia: “Ele preferia esses instrumentos normativos em vez de convidar os colegiados, que são deliberativos. A reitoria tem função executiva, e não de legislar”.
Ainda no campo do autoritarismo exercido pela reitoria no contexto da intervenção bolsonarista na UFC, a dirigente da ADUFC citou a constante perseguição aos estudantes – inclusive com expulsão destes do Conselho Universitário – e a diretores, com avaliações fraudulentas que se encontram na Justiça para serem retificadas. “Ele (interventor) perseguiu professores abrindo processos administrativos, jogou unidades umas contra as outras. A situação hoje na UFC é decorrente desse autoritarismo e na sua essência, o autoritarismo é incompetente. Não é possível governar dessa forma”, pontou Irenísia.
Intervenções repetem a mesma “receita de bolo” do projeto bolsonarista
No bojo de um projeto de desmantelamento que é real, as mais de 20 instituições de ensino público superior sob intervenção no país repetem o que a diretora da UNE classificou como “a mesma receita de bolo”, como a ausência de planejamento para o retorno presencial e a insistência no discurso de universidades sucateadas. “É esse o projeto bolsonarista. Na UFC não é diferente; a falta de planejamento, na verdade, foi muito bem planejada”, disse Stefany Tavares.
A estudante pontuou que não há o “básico” adequado para o ambiente ensino-aprendizagem e que faltam itens essenciais à segurança sanitária no enfretamento à Covid-19, como sabonetes para lavar as mãos e álcool em gel à disposição, além da não exigência do passaporte vacinal. “A universidade não tinha condições nenhuma para receber a comunidade universitária. Os próprios servidores já tinham denunciado há um tempo, porque eles voltaram antes”, afirmou Stefany Tavares. Ainda durante a entrevista, ela relembrou que a apenas duas semanas do retorno presencial anunciado pela UFC, os/as estudantes receberam a “notícia absurda” de que o Restaurante Universitário voltaria a funcionar para apenas parte da comunidade, além dos inúmeros problemas que repercutiram também na imprensa local (leia AQUI e AQUI), que acarretaram na interrupção temporária do fornecimento de alimentação ao corpo estudantil.
O processo de redução da democracia na universidade foi apontado pelas debatedoras como resultado prático das intervenções bolsonaristas, a exemplo do que ocorreu na UFC. “Esse é o grande tema atualmente”, destacou Irenísia. Além da perseguição aos estudantes, o interventor da UFC insiste nos ataques diretos à entidade sindical. Apenas no último mês, foram duas notas nesse sentido. “Uma postura autoritária desde sua raiz e que acaba de gerar uma moção de repúdio a esses ataques”, comentou a professora. A referência é ao documento assinado no último dia 31 de março pelos delegados e delegadas presentes no 40º Congresso do ANDES-Sindicato Nacional, realizado em Porto Alegre (RS). No texto, representantes docentes de todo o país manifestam repúdio às práticas antissindicais da reitoria da UFC, sob intervenção, “que se revelam em perseguição à ADUFC e também ao movimento estudantil” (SAIBA MAIS AQUI).
A dirigente do SINTUFCE acompanhou o discurso das demais entrevistadas, principalmente em referência à ausência de diálogo com a reitoria. “A gestão que queremos não é a que prioriza grupos e que não sabe ouvir o contraditório. É preciso diálogo para seguir rumo à unidade e à democracia dentro da UFC”, defendeu Heveline Ribeiro, lembrando que “há uma série de dificuldades” na representação dos técnico-administrativos no Consuni. Ela reiterou, ainda, que são fortes as insatisfações e os problemas estruturais: “uma situação muito difícil para os técnicos, que estão nos bastidores, mas que colaboram muito para o desenvolvimento acadêmico dentro da universidade”.
(*) A íntegra do programa Mundo do Trabalho sobre o tema pode ser assistida via Facebook