O(A)s delegado(a)s presentes no 40º Congresso do ANDES-Sindicato Nacional, realizado em Porto Alegre (RS), entre os dias 27 de março e 01 de abril de 2022, manifestam repúdio às práticas antissindicais da reitoria da UFC, sob intervenção, que se revelam em perseguição à ADUFC e também ao movimento estudantil.
Desde o início da intervenção, em 2019, práticas antidemocráticas e de perseguição têm marcado o cotidiano da Universidade Federal do Ceará (UFC). Recentemente, no processo de retorno às atividades presenciais, a comunidade universitária deparou-se, mais uma vez, com os ataques do interventor da UFC, Cândido Albuquerque, à ADUFC-Sindicato e ao movimento estudantil.
Em menos de um mês, foram duas notas emitidas pela intervenção atacando abertamente a ADUFC, com mentiras e acusações graves. No último dia 17, o interventor negou a existência de problemas no Restaurante Universitário e, através de uma narrativa falaciosa, acusou a ADUFC de se posicionar contra o retorno presencial, o que é uma inverdade. Também criminalizou o movimento sindical ao atacar e tentar deslegitimar a entidade, descrita como um grupo de “professores de reconhecida militância partidária e político-ideológica” que se utiliza de “um pequeno grupo de estudantes para propósitos alheios ao mundo acadêmico”.
A perseguição da intervenção na UFC ocorre em um contexto de denúncias feitas por estudantes contra a situação precária do Restaurante Universitário (RU) de Fortaleza, com relatos de comidas estragadas e casos de intoxicação alimentar amplamente divulgados na imprensa, problemas que temos denunciado desde o primeiro dia de retorno, marcado também pelo negacionismo da intervenção, que se negou a efetivar política de cobrança de passaporte vacinal.
A verdade não demorou a vir à tona. Diante dos problemas, a empresa responsável pelas refeições, a Nutrê Alimentação Ltda, desistiu de oferecer os serviços. A situação deixou a maioria dos estudantes sem comida. A UFC afirmou que seria distribuído o auxílio-alimentação apenas a alunos em situação de vulnerabilidade. Os estudantes se mobilizaram para realização de Assembleia Estudantil e, antes dela, um comunicado da reitoria foi enviado aos e-mails deles novamente com inverdades.
Por meio da nota, o interventor Cândido Albuquerque ameaçou o movimento estudantil, atitude típica de um gestor autoritário e sem legitimidade. No documento oficial, ele também descredencia o movimento e seus representantes legítimos, enfatizando que eles “não representam o corpo discente e sequer integram espaços representativos, uma vez que o Diretório Central dos Estudantes da UFC (DCE) encontra-se em vacância de gestão”. O interventor Cândido Albuquerque não detalha, contudo, que foi a sua própria gestão a responsável por atravancar as eleições estudantis e impedir a participação discente nos conselhos superiores da universidade. No dia seguinte à assembleia, que reuniu mais de 1200 estudantes, mais uma nota que criminaliza a política e descredencia as representações estudantis foi divulgada pela intervenção na UFC. Em substituição ao livre exercício da política, o interventor oferece aos estudantes uma relação personalista e manipuladora.
É notório que a administração superior escolheu como inimigos a ADUFC e os movimentos que representam os estudantes para camuflar a incompetência da gestão universitária em oferecer o mínimo à comunidade universitária neste momento: um retorno presencial efetivamente seguro e um Restaurante Universitário com condições adequadas e segurança alimentar. O 40º Congresso do ANDES-Sindicato Nacional repudia, portanto, o autoritarismo e também o descaso da gestão interventora da UFC com a comunidade universitária.
A postura adotada pelo interventor da UFC infelizmente não é isolada no Brasil e se ancora na lógica antissindical propagada pelo governo Bolsonaro ao intervir nas universidades federais, nomeando interventores não escolhidos pela comunidade universitária. Não por acaso a própria Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) foi escolhida para sediar o 40º Congresso do ANDES-SN. A instituição também segue firme como resistência às arbitrariedades de um governo federal que ataca e ameaça a educação pública e a liberdade de expressão. A exemplo da UFC, também sofre com o autoritarismo de uma reitoria interventora.
Isso contraria os princípios do debate democrático e do livre pensar que, historicamente, marcam o percurso das universidades públicas brasileiras. E é contra esse autoritarismo retrógrado e em defesa de uma universidade pública, gratuita e socialmente referenciada que o movimento sindical docente continuará lutando.
Porto Alegre/RS, 31 de março de 2022
40º Congresso do ANDES-Sindicato Nacional