Com a participação da ADUFC-Sindicato como convidada, o 40º Congresso do ANDES-SN termina amanhã (1º/4), em Porto Alegre-RS, tendo como tema central “A vida acima dos lucros: ANDES-SN 40 anos de luta!”. Professoras e professores provenientes de universidades federais e estaduais, institutos federais e Cefets de todo o país tem se reunido, desde o último domingo (27/3) para debater e deliberar sobre as ações e pautas que irão orientar as lutas da categoria no próximo período. Junto com os 642 participantes do evento, a ADUFC estará presente também em um protesto pelas ruas da capital gaúcha, em defesa das Liberdades Democráticas, na sexta-feira, manhã seguinte à plenária de encerramento do Congresso. Este é o 1º encontro deliberativo presencial do ANDES-SN desde março de 2020.
A complexidade da atual conjuntura política brasileira vem permeando as discussões durante o evento – um momento que o Sindicato Nacional reconhece como “importante, delicado” e que exige reflexão e capacidade de luta. “Temos muitos desafios nessa direção e no conjunto da nossa base, que está aqui presente no maior congresso já realizado pelo ANDES-SN”, disse Milton Pinheiro, 1º vice-presidente da entidade e presidente em exercício, durante a abertura do Congresso, no último domingo, no auditório Araújo Viana, localizado dentro do Parque Farroupilha – espaço também vem sendo utilizado para a realização das plenárias. Já os debates dos grupos mistos, dos quais toda a delegação da ADUFC participou, ocorreram em dois prédios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – um deles da Faculdade de Educação, espaço de resistência na instituição.
Para o presidente da ADUFC, Prof. Bruno Rocha, deve ser destacada a participação da delegação da entidade em todos os debates que vêm sendo realizados ao longo do congresso em Porto Alegre. O professor reforçou, ainda, o papel histórico do ANDES-SN no combate às desigualdades e na luta por uma universidade pública, de qualidade e socialmente referenciada. “O Congresso, instância máxima de deliberação da categoria filiada ao Sindicato Nacional, é um espaço de debate democrático sobre as diversas perspectivas de atuação da luta e organização sindical”, destacou.
Luta contra intervenções: categoria define mobilização permanente
A mobilização contra as intervenções do governo Bolsonaro nas universidades, institutos federais e CEFET país afora ilustra um dos principais pilares da agenda docente. Foram aprovadas ontem (30/3), por exemplo, a realização de um encontro nacional das seções sindicais do ANDES-SN nas instituições que estejam sob intervenção e a criação de um espaço nacional permanente de mobilização, articulação e compartilhamento de experiências de luta contra as intervenções.
Outras ações deliberadas sobre este item foram a revogação imediata de todas as nomeações de reitores não eleitos e a imediata posse dos reitores eleitos pelas comunidades universitárias dos Institutos Federais, CEFET e Universidades públicas do Brasil. Ainda, nas instituições em que não tenham ocorrido processos de consulta democrática, os/as docentes indicaram que sejam feitos processos amplos e democráticos de consulta para eleição de direções, de forma que tais processos se encerrem dentro das instituições, não necessitando da chancela do Executivo.
“Pela ADUFC, defendemos a necessidade de modificarmos a legislação que regulamenta a escolha de reitores e sua transformação em eleição e pelo fim da lista tríplice”, disse o Prof. Bruno Rocha. Para fortalecer a luta contra o intervencionismo, o Sindicato Nacional e as seções sindicais devem intensificar a articulação com outros segmentos das comunidades universitárias, movimentos sociais, sindicatos e entidades democráticas.
A postura adotada na UFC infelizmente não é isolada no Brasil e se ancora na lógica antissindical propagada pelo governo Bolsonaro ao intervir nas universidades federais, nomeando interventores não escolhidos pela comunidade universitária. Não por acaso a própria Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) foi escolhida para sediar o 40º Congresso do ANDES-SN. A instituição também segue firme como resistência às arbitrariedades de um governo federal que ataca e ameaça a educação pública e a liberdade de expressão. A exemplo da UFC, também sofre com o autoritarismo de uma reitoria interventora.
Em sua fala durante a abertura do Congresso, a presidenta da Seção Sindical do ANDES-SN na UFRGS, Magali Menezes, enfatizou a relevância de o evento realizado na UFRGS, que se soma às outras 21 universidades em intervenção nesse país. “Aqui em Porto Alegre, está representado o que tem de pior do neofascismo brasileiro que afeta as liberdades democráticas e a autonomia da universidade. Nos colocamos a disposição para lutar em defesa dessa universidade e para derrotar as intervenções nas universidades em todo o Brasil”, apontou a docente.
Delegação da ADUFC no Congresso: momento debate e aprendizado
Na avaliação da vice-presidente da ADUFC-Sindicato, Profª Irenísia Oliveira, pela quantidade de participantes (642) e pela dinâmica nas atividades, o congresso do ANDES mostra que este é um sindicato que tem muita vitalidade. “Temos aqui delegados de seções sindicais do Brasil inteiro. É um espaço muito rico de debate e partilha”, afirmou a professora do Departamento de Literatura da UFC e que compõe a delegação de 11 docentes da ADUFC, integrante do evento como convidada. Estão representados na comitiva docentes das três universidades federais do Ceará. “Temos participado de todas as atividades, nos grupos mistos e nas plenárias. Este é um momento importante de debate e aprendizado, especialmente para as e os docentes que vieram pela primeira vez”, avaliou.
Um deles é o Prof. Geovani Tavares (Centro de Ciências Sociais Aplicadas/UFCA). O docente destacou como positiva sua experiência de vivenciar o Congresso do ANDES-SN, um evento nacional que debate democraticamente as lutas da carreira docente e as ações de enfrentamento ao governo Bolsonaro (assista ao vídeo AQUI). “Quando cheguei ao evento em Porto Alegre, percebi essa grande luta, essa busca pela organização dos trabalhadores e do processo democrático. E isso às vezes parece cansativo, mas é necessário que a gente defina uma pauta unificada da luta dos trabalhadores”, apontou Geovani Tavares, lembrando que todo o funcionalismo público federal está com salários defasados pelo congelamento durante o governo Bolsonaro.
Além de Bruno Rocha (Bioquímica e Biologia Molecular/UFC) e Irenísia Oliveira, compõem a delegação da ADUFC no Congresso do ANDES outras duas diretoras do sindicato: Helena Martins (Comunicação Social – Publicidade e Propaganda/UFC) e Ana Paula Rabelo (1ª tesoureira/Instituto de Humanidades e Letras/UNILAB). E também sete professores/as da base, incluindo Geovani Tavares: Maria Inês Escobar (Estudos Interdisciplinares/UFC), Margarida Pimentel (Letras Libras e Estudos Surdos/UFC), Kelly Menezes (Fundamentos da Educação/UFC), Maria do Céu de Lima (Fundamentos da Educação/UFC), Vanessa Jakimiu (Teoria e Prática do Ensino/UFC) e Antônia Suele de Souza (Licenciatura em Letras/UNILAB).
O docente, que representa a categoria da UFCA e participa do Congresso do ANDES-SN pela primeira vez, destacou a experiência de vivenciar de perto um evento nacional que debate democraticamente as lutas da carreira docente e as ações de enfrentamento ao governo Bolsonaro (assista ao vídeo AQUI). “Quando cheguei ao evento em Porto Alegre, percebi essa grande luta, essa busca pela organização dos trabalhadores e do processo democrático. E isso às vezes parece cansativo, mas é necessário que a gente defina uma pauta unificada da luta dos trabalhadores”, apontou Geovani Tavares, lembrando que todo o funcionalismo público federal está com salários defasados pelo congelamento durante o governo Bolsonaro.
Exposição integra atividades do Congresso e relembra violências especialmente no âmbito da universidade
(Foto: Ricardo Araújo/ADUFPB ANDES)
Memória, verdade, justiça e reparação na universidade
Lançamentos de livros, exposições, mostras e apresentações culturais integram a programação do 40º Congresso do ANDES-SN. Um dos destaques tem sido a exposição “50 anos dos expurgos da UFRGS”, que retrata um dos tempos mais sombrios da ditadura civil-militar, entre as décadas de 1960/70. A mostra, realizada pelo Coletivo Memória e Luta, traz elementos que evidenciam as perseguições nas universidades públicas, entre elas a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Expurgos de professores, servidores técnico-administrativos e estudantes ocorreram nesse período. A mostra é composta de 18 aquarelas do Prof. José Carlos Freitas Lemos (UFRGS), acompanhadas de textos. Ela atravessa um período histórico que relembra violências como a morte do jornalista Vladimir Herzog, mas também as conquistas, a coragem e a resistência, especialmente no âmbito da universidade.
Várias atividades artístico-culturais no Congresso do ANDES-SN reforçam a luta por memória, verdade, justiça e reparação. Em paralelo, os/as participantes têm intensificado a campanha pela revogação dos títulos de Honoris Causa dos militares Arthur da Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici (assine e saiba mais AQUI). Os dois nomes, que presidiram o Brasil durante a ditadura civil-militar, são responsáveis não apenas por centenas de mortes e desaparecimentos, como pelos expurgos realizados na universidade nos anos de 1964 e 1969. UFRJ e Unicamp já haviam suspendido títulos do tipo, a Médici e Jarbas Passarinho.
O Congresso também oportunizou o lançamento da 69ª edição da revista Universidade e Sociedade. Com o título “Políticas educacionais: desafios e dilemas”. A revista é um importante instrumento de divulgação e formação do Sindicato Nacional. A publicação foi distribuída a todas e todos participantes e está disponível também em versão digital (AQUI) E traz sete artigos contemplando temas como política educacional e adoecimento docente.
40º Congresso do ANDES-SN
Com o tema central “A vida acima dos lucros!”, o 40º Congresso do ANDES-SN reúne 642 participantes de 89 seções sindicais, entre delegados, delegadas (445), observadores, observadoras (146), convidados e convidadas (17), e diretores e diretoras (34) do Sindicato Nacional. O evento está ocorrendo entre os dias de 27 e 31 de março, no auditório Araújo Vianna, na cidade de Porto Alegre (RS). No dia 1º de abril, os/as docentes participarão do ato “Pelas liberdades democráticas e em defesa dos serviços públicos”, em conjunto com outras categorias de trabalhadores e trabalhadoras. O protesto encerra a programação do 40º Congresso do ANDES-SN.
(*) Com informações de Bruna Homrich (Sedufsm) e Eliege Fante (ANDES/UFRGS) e ANDES-SN