Como atividade do Grupo de Trabalho (GT) História do Movimento Docente e Formação Política Sindical, da ADUFC, foi lançado na última segunda-feira (22/11) o livro “Do sertão para a cidade, entrelaçando caminhos”. O Memorial da Profª. Sulamita Vieira, do Departamento de Ciências Sociais da UFC, também deu título à live de lançamento, transmitida pelo canal do sindicato no YouTube e traduzida em tempo real para Libras. Na ocasião, a docente participou de uma conversa com outros/as três debatedores/as, em formato virtual, ainda como medida de segurança no enfrentamento à pandemia de Covid-19.
Sulamita Vieira foi apontada pela mediadora do debate, Profª. Adelaide Gonçalves, como “uma das mais bravas educadoras do Ceará”. Ao longo das 163 páginas do livro, a docente fez um passeio que mergulhou em sua própria história no sertão cearense e na Universidade Federal do Ceará (UFC) – histórias que se misturam e se complementam. “Olhando o mundo ao meu redor, com as lentes das Ciências Sociais, passei a perceber estruturas de poder, desigualdades sociais, práticas e orientações distintas, discriminação de classe e de gênero, entre outras”, pontuou Sulamita, durante sua fala. Para ela, uma área de estudo que “pode nos ajudar a enxergar criticamente o mundo”.
A conversa com a autora foi conduzida por Adelaide – uma das organizadoras do lançamento e integrante do Deptº. de História da UFC e do próprio GT – e teve outras duas participações: da Profª. Maria Neyara Araújo, do Deptº. de Ciências Sociais da UFC; e do agrônomo Pedro Jorge Ferreira Lima, fundador e diretor do ESPLAR – Centro de Pesquisa e Assessoria. Os debatedores lembraram, ainda, o caráter generoso da autora do livro, cuja renda será integralmente revertida para o setor de Educação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no Ceará – venda a R$ 25, no Espaço Cultural Ernesto & Rosa (Av. Monsenhor Tabosa, 1.069 – Centro, Fortaleza).
As relações clientelistas na configuração do mundo rural
No livro e no debate, uma moldura social do sertão – partindo dos arredores da cidade de Canindé, mais precisamente da Serra do Machado –, da vida familiar e das primeiras letras, Sulamita falou de uma região até hoje desassistida pelo poder público. “Passei a perceber a ausência de políticas públicas, dos estados, e as relações entre essas ausências e todo o sistema de relações clientelistas na configuração do mundo rural”, disse a docente, adicionando que até os dias de hoje o caminho que dá acesso à casa onde nasceu é feito unicamente por estrada carroçável.
Em seu Memorial e na conversa aberta ao público, Sulamita também seguiu percorrendo os muros da universidade em períodos distintos. Sua vida de estudante na UFC coexistiu com os tempos do arbítrio da ditadura militar. “Alguns dos meus colegas foram presos e só vieram a se formar muito mais tarde. Essas pessoas podiam ser arrancadas do pátio da faculdade, podiam ser arrancadas da Residência Universitária, das suas próprias casas. Quase sempre, ao amanhecer”, rememorou.
A ponte entre passado e futuro teve espaço no discurso da autora, que relembrou o “acirramento dos problemas sociais na sociedade brasileira, principalmente pelo desgoverno que se instalou no país em janeiro de 2019”. Para Sulamita, um tempo que lhe pareceu funcionar “como uma espécie de chamado de urgência para investir no estudo de temas que possa, de algum modo, contribuir para a construção de outras memórias” – daí também surgiu a ideia de publicação do livro, que traz significativos aportes à história das Ciências Sociais no Ceará, passando também pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
GTs da ADUFC seguem como espaços colaborativos
Criados na gestão anterior, os nove GTs da ADUFC funcionam como espaços não deliberativos de debates e formação política sindical e começaram a ser reorganizados em agosto último. Em pleno funcionamento, eles continuam abertos a novos integrantes e seguem mantidos neste biênio. O GT História do Movimento Docente e Formação Política Sindical foi idealizado para promover estudos e a realização de ações ligadas à história e à memória do movimento docente, em suas relações com a história do movimento sindical no Brasil. O GT também vai se dedicar à proposição e à organização de cursos, seminários e outros eventos, visando à formação política sindical dos/as docentes, em particular, e dos/as trabalhadores/as, em geral.
O novo GT substituiu, em agosto de 2021, o de Ação Sindical, cujas atribuições foram incorporadas por todos os oito demais: Comunicação e Cultura; Política Educacional; Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente; Seguridade Social; Trabalho, Políticas Urbana, Agrária e Ambiental; Políticas de Classe e Étnico-Raciais; Políticas de Gênero e Diversidade Sexual; e Saúde na Universidade.
(*) A live de lançamento do livro foi transmitida pelo canal da ADUFC no YouTube, onde permanece gravada.