Mais de mil médicos cearenses já assinaram o Manifesto em Defesa da Vida, da Ciência, do SUS. No documento, os profissionais reivindicam medidas urgentes para o enfrentamento à Covid-19 e apontam que é inviável a permanência da mesma política nacional na gestão da pandemia. “Sem uma grande mudança no plano nacional, essa situação, já inaceitável, seguirá infelizmente piorando. O Governo Federal boicota, desde o início, as medidas de combate à pandemia. Poderíamos até dizer que por incompetência, mas não: é justamente esse o projeto”, diz a carta.
De acordo com os médicos, o Governo Federal não só se omite de suas responsabilidades como tem agravado o cenário da pandemia, levando a uma realidade que já contabiliza mais de três mil mortes de brasileiros e brasileiras em um único dia. O Brasil caminha para atingir a marca cruel de quase 300 mil mortes por complicações da Covid-19. Em vez de distanciamento social e auxílio emergencial para que as famílias enfrentem esse período, o presidente da República promove aglomerações e incentiva o uso de medicamentos sem eficácia comprovada, criticam os médicos. “Nossos corpos, os corpos dos colegas médicos e de tantos outros profissionais de saúde, estão na linha de frente, com exaustão e dor. Nunca tivemos tantos colegas adoecendo e falecendo”, denunciam.
A iniciativa se contrapõe a outro manifesto puxado por médicos do Ceará em defesa de Jair Bolsonaro, divulgado nesta semana, em um cenário desastroso que anuncia dias ainda mais difíceis para todos/as, com o sufocamento da rede hospitalar e de equipamentos de saúde. Em nota, a ADUFC-Sindicato repudiou o manifesto, que conta, inclusive, com a assinatura de José Glauco Lobo Filho, que ocupa o cargo de vice-reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC) por intervenção do Governo Federal.
Na última terça-feira (16/3), a Fiocruz divulgou mais uma edição do Boletim Extraordinário do Observatório Covid-19 Fiocruz. A análise destaca indicadores que apontam uma situação extremamente crítica em todo o país. Na visão dos pesquisadores que a realizam, trata-se do maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil.
Neste cenário de extrema gravidade, em que a média de óbitos diários se aproxima de 3 mil, a Frente pela Vida e os Conselhos de Saúde Nacional, Estaduais e Municipais de capitais somam-se ao movimento do Fórum Nacional de Governadores e a todos que propõem, em caráter de urgência, uma ação coordenada entre as três esferas de governo para diminuir o número de casos novos e de mortes. LEIA AQUI a íntegra da carta aberta divulgada nesta quinta-feira (18/3) e que reafirma o compromisso dessas entidades com o fortalecimento do SUS, a saúde e a vida.
Para mais informações sobre adesões ao Manifesto em Defesa da Vida, da Ciência, do SUS, acesse a página no Facebook do Coletivo Rebento: Médicos em Defesa da Ética ou entre em contato pelo número (85) 99868.8211 (WhatsApp).
Leia a carta na íntegra:
O Brasil se tornou o epicentro da pandemia de Covid-19, com a morte de mais de 278 mil pessoas. Mais de 2 mil óbitos por dia! Sentimento de luto também por colegas que estavam na linha de frente, expondo suas vidas para salvar vidas, num compromisso de humanidade.
Sem uma grande mudança no plano nacional, essa situação, já inaceitável, seguirá infelizmente piorando. O Governo Federal boicota, desde o início, as medidas de combate à pandemia. Poderíamos até dizer que por incompetência, mas não: é justamente esse o projeto.
Nossos corpos, os corpos dos colegas médicos e de tantos outros profissionais de saúde, estão na linha de frente, com exaustão e dor. Nunca tivemos tantos colegas adoecendo e falecendo.
Enquanto isso, são inúmeras as declarações do presidente Bolsonaro em desrespeito aos profissionais de saúde, às vítimas da Covid-19 e aos seus familiares. De “não sou coveiro” à ordem para “invadir e filmar hospitais”. De “deixem de mimimi” até a lamentação pela aprovação da vacina.
Em vez de vacinação, falam de ivermectina e cloroquina. Em vez de incentivar a prevenção e de salvar vidas, fazem chantagem com a falsa dicotomia “vida ou trabalho”, promovem carreatas ilegais e “fake news”. Falta respeito à saúde pública e a cada cidadão.
Como médicas e médicos, reivindicamos:
1. Precisamos urgentemente de uma saída humanitária para essa grave crise! É fundamental garantir que a maior parte da população seja vacinada de forma rápida para impedir nova onda de casos. É necessário o isolamento social, para diminuir as mortes enquanto a vacina não chega a mais gente. É vital o auxílio emergencial em valor condizente com a dignidade;
2. Não podemos nos calar diante do projeto que prioriza a morte. Repúdio é o nosso sentimento pelo governo Bolsonaro;
3. Diante das pesquisas científicas e por princípio ético, nos recusamos a utilizar tratamentos e medicamentos sem comprovação científica de eficácia. Repudiando a insistência nesse caminho, defendemos as condutas corretas, que salvam vidas, com base na ciência;
4. Apoiamos a iniciativa dos governadores e prefeitos em ampliar a rede de assistência à saúde, em tomar as medidas de proteção coletiva e, inclusive, em adquirir vacinas eles mesmos, diante da absoluta lentidão do Governo Federal em tomar essas medidas;
5. Exigimos a responsabilização de Bolsonaro e de seu governo, que não tiveram seriedade contra a pandemia, permitindo que o País chegasse à atual situação, motivo de vergonha, lamento, preocupação, para nós e para o mundo.
Basta! Chega de desrespeito à vida! Chega de projeto de morte! Nós, abaixo assinados, médicas e médicos do Ceará, reivindicamos a defesa da vida, da ciência, do SUS.
Fortaleza, 16 de março de 2021
(*) Leia a lista completa dos médicos signatários da carta AQUI.