Esta semana, a comunidade universitária da UFC foi surpreendida com uma “enquete” no SIGAA, cujo intuito seria “promover uma avaliação diagnóstica da Reitoria” acerca de supostos “feitos oriundos dos 12 primeiros meses” da intervenção. A mensagem introdutória assegura “o caráter anônimo e sigiloso” da participação, garante seu “emprego unicamente para finalidades gerenciais” e “aprimoramento das funções da Reitoria” e termina com uma autolouvação pela “ação institucional pioneira”, que é a aplicação desse questionário.
Por toda parte, a estranha “enquete” foi recebida com desconfiança. Algumas discrepâncias logo saltaram aos olhos: uma consulta anônima realizada pelo SIGAA e um questionário “institucional” evidentemente mal elaborado, descaradamente tendencioso e inclusive fazendo umas “pegadinhas” com os respondentes.
Não sabemos se surpreendeu mais os professores a peça de manipulação em si ou o seu baixo nível intelectual. A intervenção, pelo visto, começou por desrespeitar nossa capacidade de decisão e agora desrespeita abertamente também a nossa inteligência.
Examinando um pouco melhor a situação, percebe-se que é óbvio que o interventor e sua entourage não querem “conhecer” o pensamento e a avaliação da comunidade universitária, porque se tivessem interesse em nossas opiniões, nem estariam ocupando os cargos que usurparam dos eleitos. (No momento em que escrevemos este texto, os ministros do STF Fachin e Lewandowski já votaram pelo respeito à lista tríplice na ordem em que é elaborada, a bem da Constituição Federal).
O questionário, com suas induções e malabarismos frasais, tem outro objetivo muito evidente: gerar mensagens dúbias capazes de serem usadas numa peça de propaganda da reitoria, uma peça que, ao final, iria justamente burlar a “fidedignidade” que recomenda aos participantes.
De todos os dribles argumentativos que pretende aplicar no participante, o mais sem graça e mais revelador de suas intenções é o que pretende atribuir a “feitos oriundos” da intervenção as ações institucionais da universidade. Desse modo, tudo o que é feito na universidade (ações de inclusão digital e assistência estudantil, entre outras) passa a ser “oriundo” da ação do interventor, o único ativo em meio a uma comunidade passiva.
Por isso, foi preciso expulsar os estudantes dos conselhos, para que não decidissem, como parte da gestão democrática que são, e pudessem figurar como objetos do “grande benfeitor”. E não apenas os estudantes. Segundo o questionário, todas as ações da universidade nos últimos 12 meses são oriundas, se originam, emanam do interventor. Respondendo ao questionário, concordando ou discordando (ou muito pelo contrário!), nessa confusão que o questionário cria a todo instante, o participante é levado a opinar sobre ações institucionais como se fossem ações do interventor.
É verdade que, de fato, ele tentou impor suas vontades à comunidade universitária ao longo do último ano, e que atacou a democracia universitária com uma sanha sem limites, mas ainda assim as ações institucionais não são, nem serão dele jamais. Porque não aceitamos o fundamento autoritário que é o cerne dessa enquete.
O script do autoritarismo é pobre: uma semana usa a força e persegue; outra, usa expedientes e manipula. Por isso, precisamos nos negar terminantemente a nos tornar seus objetos, seja pelo medo, seja pelo engano. A ADUFC-Sindicato considera que esse questionário não merece ser respondido porque é feito para manipular, seja qual for a resposta dada. Ele é uma armadilha. Os que o propõem não ligam a mínima para a opinião da comunidade universitária e só querem contrabandear a própria opinião como se fosse a nossa.
Não respondamos, passemos adiante, temos mais o que fazer.
Fora Interventor
Fora Bolsonaro