Camila Holanda Marinho (Professora da UECE)
A minha primeira percepção sobre o uso de atividades remotas, em tempos de pandemia, é que a tecnologia é incapaz de substituir as práticas AFETIVAS dos contatos humanos face a face, olho no olho, entre estudantes e professores. O que mais queremos com urgência e sentimos falta, em tempos de isolamento social, é encontrar as pessoas, nos abraçar, nos reunir em aglutinações festivas e AFETIVAS. Como as ferramentas virtuais não são capazes de substituir o encontro presencial, então são insuficientes para práticas docentes AFETIVAS. Não me refiro às atividades de EAD; isso seria assunto para outra memória, mas sim, a controversa modalidade dos professores em isolamento social acharem que estão ensinando e os estudantes se angustiarem porque não estão aprendendo.
Li uma reportagem, um dia desses, que dizia que pouco mais de 40% dos estudantes brasileiros possuem computadores em casa. Outra afirmava que os professores, pais e entidades estão entrando na justiça contra a obrigatoriedade do ensino remoto. Muitas Universidades se perdem na emissão de notas que (des)orientam os professores com relação ao “andamento” do semestre. Oxe, mas se tudo desandou… Faculdades privadas estão surrupiando os direitos autorais dos professores através das aulas virtuais, sem eles perceberem que seus saberes estão sendo negociados, e isso poderá provocar suas dispensas futuras, já que as aulas estão todas gravadas. É o Capital e sua perversidade descartando os trabalhadores.
O coronavírus expõe, de forma cruel, a desigualdade educacional no Brasil, e os professores não deveriam naturalizar uma prática tão injusta e ineficiente como uma forma de dar conta do conteúdo ou do semestre. Como tudo é novo, ainda estamos construindo os caminhos mais corretos, mas já sabemos aqueles que não queremos seguir. O acesso à educação é um direito humano. De tão negado que foi, pode ser a explicação para entendermos porque chegamos aonde chegamos. Lembro de Paulo Freire nos ensinando que a educação é um ato revolucionário, e é uma forma coletiva dos indivíduos tomarem consciência da sua condição histórica e de sua capacidade de transformar o mundo.
Eu, como professora de um curso de licenciatura em Ciências Sociais, não quero ensinar aos estudantes que a ferramenta “prática” e desigual da educação remota é uma forma de cumprir o conteúdo, o calendário, a burocracia, pois o ofício do professor é uma vocação, deve ser uma prática AFETIVA, e não uma mera atividade de formação profissional, a partir da materialidade de transmissão de conteúdos. Atualmente as discussões sobre educação (desde antes da pandemia) se limitam a questões didáticas e não a questões éticas e AFETIVAS. Devemos recuperar esses princípios educativos.
Se um estudante está excluído do processo, então isso importa, porque a educação é uma atividade de inclusão social. Ou deveria ser. Eu quero ensinar os meus alunos e alunas a questionarem, a contestarem, a se indignarem, a se importarem com os males da desigualdade social tão acirrados em tempos de pandemia. Abrem-se covas nos cemitérios das periferias e hospitais de campanhas em areas privilegiadas. Não quero enterrar os sonhos dos estudantes de que a educação pode salvar vidas e transformar o mundo.