A comunidade internacional vem assistindo, com espanto e apreensão, à crise política instalada na Bolívia nas últimas semanas. No último domingo (10/11), contudo, a situação do país se tornou ainda mais dramática com a renúncia forçada do presidente Evo Morales, fato que precisa ser lido como a consequência de uma série de atos de violência política que culminaram num autêntico golpe de estado.
Em seus anos à frente da Presidência, Morales levou a Bolívia ao crescimento dos indicadores sociais e econômicos, materializados numa consistente e inquestionável melhoria das condições de vida em um dos países mais pobres da América Latina. Entretanto, o grande legado do seu governo foram a integração ao processo político e a participação direta em um novo projeto de país de populações que viveram marginalizadas durante séculos. Como resultado, implementou-se um modelo que congregou os múltiplos grupos étnicos que foram oficialmente reconhecidos em um Estado Plurinacional que, pela primeira vez na história boliviana, garantiu direitos e deu visibilidade a uma maioria composta por quem foi socialmente invisível desde o processo de colonização.
O questionamento do resultado das eleições presidenciais levou à instalação de um clima de instabilidade que, em poucos dias, evoluiu para a intolerância e a violência. As etapas da crise são velhas conhecidas na América Latina: rejeição, pelos derrotados, ao que se decidiu nas urnas; atentados e outros crimes, a fim de se instalar um clima de pânico nas ruas; e pressão, direta ou indireta, das forças armadas pela mudança.
Diante desse cenário, no qual os que têm a responsabilidade constitucional de resguardar a estabilidade e a institucionalidade conspiram e tornam aberta a sua posição a favor da quebra da ordem, a única alternativa do mandatário acaba sendo sucumbir às ameaças para, assim, impedir a escalada da violência. Em uma situação em que não restam opções além da renúncia, não vemos outra palavra para definir o acontecimento além de golpe.
Repudiamos qualquer interferência de segmentos militares no processo político, pois acreditamos que um estado efetivamente democrático não pode tolerar que as suas instituições sejam tuteladas pelas forças armadas. A legitimidade provém do voto, e não da força ou da violência.
Nós nos solidarizamos com o povo boliviano na luta pela manutenção real da sua democracia inclusiva e popular. Resistir ao golpismo e a qualquer ameaça antidemocrática é preciso!
Fortaleza, 15 de novembro de 2019
Diretoria da ADUFC-Sindicato
Gestão Resistir é Preciso (Biênio 2019-2021)