Servidores docentes da Universidade Federal do Ceará (UFC), juntos com servidores técnico-administrativos e estudantes da instituição, uniram-se ontem (28/8), nos jardins da Reitoria para a realização do Grito pela Educação. A ação integrou a agenda do Comitê em Defesa da Autonomia Universitária, instalado há uma semana envolvendo a comunidade acadêmica e soma-se aos preparativos para o Grito dos/as Excluídos/as 2019, que ocorrerá no dia 7 de setembro. Religiosos, professores, pesquisadores e estudantes de diversas instituições também participaram da ação pacífica, que segue denunciando os intensos ataques promovidos contra a educação pública.
Partindo da premissa de que nenhuma pessoa deve ser excluída da educação e que todos tenham respeitado seu direito a uma educação de qualidade, pública e gratuita, a ação somou-se ainda aos diálogos com a Campanha da Fraternidade, cujo tema são as políticas públicas, “no caminho da luta por justiça, direitos e liberdade”. O teólogo Marcelo Barros foi um dos primeiros a se manifestar, enfatizando os ensinamentos do educador Paulo Freire e a importância da luta coletiva. “Se a gente está querendo uma outra educação, ela só será outra com união. Porque ninguém se educa sozinho”, disse Barros, que também é monge beneditino.
O espírito de coletividade e soma de forças na defesa incessante da educação deu o tom do ato. “A gente precisa de força e ela vem dessa coletividade”, concordou o presidente da ADUFC, Bruno Rocha. Diante das ameaças à autonomia da Universidade, ele reiterou a importância de essa pauta ser trazida aos jardins da Reitoria, e de ela ser associada ao Grito dos/as Excluídos/as 2019. “Esse espaço é o nosso quintal, um ponto de resistência e simbolismo. E esse é um momento que nos traz esperança, como muito se falou aqui. E a caminhada não é trivial, nem simples e nem fácil”, avaliou.
A vice-presidente da entidade, Irenísia de Oliveira, lembrou a necessidade de manutenção e expansão das classes populares dentro das universidades. “Não queremos que expulsem os filhos da classe trabalhadora. O objetivo é expandir a educação pública pra todos, e em todos os níveis. Sabemos que na universidade há contradições, mas dentro dessas contradições, a gente estava avançando. Não podemos admitir retrocessos e exclusões”, salientou a dirigente.
Sociólogo e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), David Moreno fez um resgate sobre a educação retratada na Constituição de 1988: “A partir daí, a educação virou um direito básico, fundamental, socialmente referenciada, universal e laica. Fizemos esse acordo naquele momento. O que foi resultado de muita luta, muitos movimentos e muita pressão. Essa educação nunca teve folga. E vamos continuar lutando todas as ofensivas contra ela”.
Autonomia universitária
Criado no último dia 22 de agosto, o Comitê em Defesa da Autonomia Universitária vem sendo mantido e composto por servidores docentes, servidores técnicos-administrativos e estudantes. O grupo vem elaborando agenda de atividades diárias em defesa da autonomia universitária até a próxima Assembleia Geral, marcada para a primeira semana de setembro. O Grito pela Educação desta quarta-feira também foi mais um alerta à retomada do debate sobre o projeto Future-se, do Ministério da Educação (MEC), e que já havia sido rejeitado pelo Conselho Universitário (Consuni) da UFC.
A proposta do MEC prevê mudanças profundas não apenas na estrutura administrativa, como ainda na gestão orçamentária e no financiamento das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes). A comunidade acadêmica chama a atenção para a gravidade do risco iminente e real de privatização das Ifes e de diminuição da responsabilidade do Estado com o ensino superior público.
“O Future-se afeta diretamente os alunos do IFCE e da UFC. Nós aqui sabemos, mas muitas pessoas não conseguem discernir e antecipar as consequências das decisões que o governo está tomando agora. Nós somos porcentagem pequena de pessoas que conseguem visualizar o quanto a educação está sendo sucateada no Brasil”, opinou Aurissol Santos, aluna de Química da IFCE.
A exemplo do que ocorreu na UFC, o Conselho Universitário da Universidade Federal do Cariri (UFCA) também aprovou, por unanimidade, a rejeição ao Future-se. A decisão se deu em reunião extraordinária realizada nesta terça-feira (27/8) e referenda o encaminhamento da Assembleia Geral Universitária da UFCA, realizada no último dia 21 de agosto.
Sobre o 25º Grito dos Excluídos
O Grito da Educação desta quarta-feira antecipa, na capital cearense, as ações do Grito dos/as Excluídos/as 2019, cujo lema é “Este sistema não Vale!” e ecoa as críticas do Papa Francisco ao sistema econômico, que coloca o lucro acima de tudo, como no exemplo do crime ambiental cometido pela Vale em Brumadinho (MG). A 25ª edição do Grito envolve diversas atividades, culminando no ato de 7 de setembro. Em Fortaleza, ele será realizado na Praia do Futuro. A concentração está marcada para as 8 horas na Escola Frei Tito de Alencar, na Av. Dioguinho, 5.927. Os participantes sairão em caminhada até a Praça Dom Helder Câmara, onde será realizado o encerramento do protesto.