Caro presidente do Conselho Universitário (CONSUNI), professor Custódio Almeida, reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), e caros/as conselheiros/as do CONSUNI,
Nesta carta aberta, gostaríamos de nos posicionar sobre as denominações dadas aos espaços da área da Reitoria da universidade, tema que ganhou a cena pública nas últimas semanas.
Tendo em vista que, conforme noticiado pela UFC, foi encontrada uma ata datada de 1959 que nomeava de Antônio Martins Filho o “auditório da Concha Acústica”, consideramos importante uma reflexão mais ampla sobre o sentido dessas homenagens.
Entendemos que os espaços da Reitoria precisam ser pensados em conjunto e com as suas memórias e simbologias específicas. Esses espaços vêm passando por mudanças de nomes atendendo a uma luta de décadas por redemocratização política e social, com deveres específicos quanto à memória e à reparação após o período da ditadura militar-empresarial.
Com esse direcionamento, em 2018, o CONSUNI renomeou oficialmente o Auditório da Reitoria como Auditório Professor Antônio Martins Filho, reitor da UFC no período de 1955 a 1967, retirando o nome do ditador Castelo Branco.
A intenção deste CONSUNI, ao aprovar o nome do estudante Bergson Gurjão Farias para a Concha Acústica no último dia 1º de novembro, pauta-se pelos mesmos valores da decisão de 2018, imbuído do mesmo sentido de dever histórico com a redemocratização do país, ainda mais premente em um momento em que nossa democracia sofre graves ataques e ameaças.
Nessa perspectiva, consideramos não haver nenhum desdouro a Martins Filho nas mudanças realizadas nos nomes dos espaços da Reitoria. Ao contrário, nosso insigne reitor recebeu o nome do espaço mais central e solene da instituição.
Desonra haverá a Martins Filho se seu nome for usado exitosamente por aliados do autoritarismo para vetar o nome do estudante Bergson Gurjão na Concha Acústica. Porque é óbvio que o que move os reclamantes não é a homenagem a Martins Filho, se, quando estavam em lugares de poder na universidade, nunca sequer atentaram para o uso do nome do antigo reitor referido àquele espaço na comunicação oficial da instituição. Como dissemos em nota anterior, nós docentes nunca soubemos que a Concha Acústica da UFC tivesse o nome de pessoa alguma. E, só agora, quando o Diretório Central dos Estudantes da UFC (DCE-UFC) propõe o nome de um estudante assassinado pela ditadura para aquele espaço tão ligado à vida estudantil, é que aparecem como cruzados da memória institucional.
O nome removido dos espaços da Reitoria da UFC não foi o de Martins Filho, este alçado ao lugar de maior dignidade da casa. Quem saiu foi Castelo Branco e a nós está muito nítido que é essa exclusão que as viúvas da ditadura lamentam, sem terem a coragem de declarar abertamente e usando Martins Filho como pretexto — isto sim um desrespeito à sua memória.
Então se queremos realmente honrar Martins Filho e o livre espírito universitário, vamos persistir em nossa tarefa histórica, aprofundar as ações de redemocratização dos nossos espaços, sem nenhum recuo, sem nenhuma concessão aos ditadores antigos e atuais.
Em vista de todo o exposto, a Diretoria da ADUFC defende que, na concessão de homenagens nos espaços da Reitoria, o Professor Antônio Martins Filho, primeiro reitor da UFC, dê nome ao Auditório da Reitoria, já aprovado por esse Conselho em 2018, e o estudante Bergson Gurjão Farias, lutador morto pela ditadura, dê nome ao espaço da Concha Acústica da UFC, o que depende da ratificação desse CONSUNI.
Fortaleza, 18 de novembro de 2024
Diretoria da ADUFC-S.Sind
Gestão ADUFC nas Lutas
(Biênio 2023-2025)
