No último 1º de novembro, o Conselho Universitário (CONSUNI) da Universidade Federal do Ceará (UFC) aprovou, por aclamação, que a Concha Acústica da UFC fosse nomeada Concha Acústica Bergson Gurjão Farias, em homenagem ao militante e ex-estudante do curso de Química morto pela ditadura militar. A nomeação faz parte de série de eventos e atos comemorativos pelos 70 anos da universidade, e ocorreu juntamente com a assinatura do Termo de Reconciliação Histórica com a Democracia e os Direitos Humanos.
Reconhecer o passado é uma forma de identificar ameaças do presente e de fortalecer a luta pela democracia todos os dias. No entanto, mal a nomeação foi anunciada, a Universidade e a Reitoria receberam ataques antidemocráticos disfarçados de críticas e de “defesa da memória” daqueles que flertam com o fascimo e seus modos de agir. Ao contrário das fake news propagadas, nós, docentes da UFC, sabemos que a Concha Acústica nunca teve o nome de nenhuma pessoa — nem oficialmente nem por nomeação espontânea da comunidade universitária. Basta consultar a comunicação oficial da Universidade e os informativos das entidades representativas de servidores e estudantes e mesmo a grande imprensa para que isso seja comprovado.
Líder estudantil e ativista, Bergson Gurjão Farias desapareceu no Araguaia em meados de 1972. Seus restos mortais foram localizados em 1996 e, somente em 2009, com auxílio de exames de DNA e após quase quatro décadas de busca por respostas, a família pode sepultar o estudante em cerimônia com honras de Estado em cortejo na Reitoria da UFC. Na ocasião, uma placa homenageando o estudante foi instalada na Concha Acústica. “Bergson vive em cada caminhada de estudantes nas ruas deste país. Hoje, ele volta para esta Universidade, onde tudo começou. Bergson faz parte de uma geração que correu todos os riscos, que deu a vida em nome do que acreditava”, disse, à época, José Genoino, companheiro de militância de Bergson.
Nomear a Concha Acústica da UFC, espaço que desde 1959 recebe colações de grau, comemorações e demais celebrações universitárias com seu nome é lembrá-lo como símbolo da luta pela democracia, pela justiça e contra o autoritarismo que nos ameaça.
É necessário lembrar que, não distante na história recente de nossa universidade e de nosso país, tivemos uma gestão interventora imposta à comunidade universitária por um grupo fascista que, ao sair do poder, tentou um golpe de estado há pouco mais de um ano. Lutamos por quatro anos em defesa da democracia, pela manutenção dos direitos sociais e contra as tentativas de tomada de poder. Na UFC, lutamos por quatro anos contra o autoritarismo, contra a perseguição de estudantes, docentes e técnico-administrativos e pelo resgate da verdadeira memória da luta pela democracia que permeia a instituição.
Chamar de “apagamento da História” a nomeação da Concha Acústica é caminhar na contramão da justiça, tentando mais uma vez impor o esquecimento e manter a impunidade nos casos dos crimes contra a humanidade — desaparecimentos, assassinatos, tortura — perpetrados pela ditadura. Devemos, ao contrário, reabrir arquivos, processos e caminhar na direção da punição de assassinos e torturadores.
Nas palavras de nosso colega, Prof. Gustavo Cabral, “dar o nome à Concha de alguém que dedicou sua vida para lutar contra a opressão é um símbolo de compromisso da Universidade”. A ADUFC-S.Sind esteve, está e sempre estará ao lado da luta pela democracia, pela Memória dos que lutaram por nossos direitos, por uma Universidade socialmente referenciada, pública e igualitária. Homenageamos a memória de Bergson. Celebramos a decisão do CONSUNI da UFC. Avancemos na luta por democracia.
Bergson Gurjão presente, hoje e sempre!
Fortaleza, 14 de novembro de 2024
Diretoria da ADUFC-S.Sind
Gestão ADUFC nas Lutas (Biênio 2023-2025)