Mães que perderam filhos para a violência do Estado relataram os múltiplos adoecimentos e o difícil processo de luto (Foto: Nah Jereissati/ADUFC)
A ADUFC sediou na terça-feira (23), em Fortaleza, o lançamento do livro “Vozes da dor, da luta e da resistência das mulheres/mães de vítimas da violência de estado no Brasil”, resultado de uma pesquisa colaborativa entre pesquisadoras da Universidade de Harvard, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e do Movimento Independente Mães de Maio. A equipe de pesquisa inclui mães de vítimas da violência de Estado em quatro estados brasileiros: Bahia, Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo.
A partir do referencial teórico-metodológico utilizado na pesquisa fica evidente o papel imprescindível da voz e do protagonismo das pessoas diretamente atingidas pela violência de Estado. Ao retratar realidades de quatro estados, o objetivo é entender as dinâmicas compartilhadas e as divergências nas experiências com a violência de Estado em diferentes territórios. “As mães da periferia foram chamadas não apenas para contar suas histórias, mas para dar visibilidade a esses casos. A morte de alguns desses meninos nem sequer foi noticiada na mídia”, ressaltou Edna Carla Souza, integrante do Movimento Mães da Periferia e mãe de Álef Souza Cavalcante, morto aos 17 anos na Chacina do Curió.
A pesquisa apresentada no relatório também visou compreender as experiências de adoecimento, a ação política e as transformações da vida cotidiana vivenciadas por mães de vítimas da violência de Estado no Brasil, utilizando um referencial teórico-metodológico fundamentado na educação popular, que possibilita a construção coletiva do conhecimento e o protagonismo das vozes e as narrativas das mulheres afetadas pela violência de Estado e, ao mesmo tempo, incorporá-las como parte da equipe que elaborou a pesquisa, coletando e analisando os dados.
O trabalho de pesquisa nasceu da aproximação do Movimento Independente Mães de Maio com o grupo de pesquisa do Centro de Arqueologia e Antropologia Forense (CAAF), da Unifesp, como desdobramento de outro processo de pesquisa-ação realizado em 2019, que evidenciou a necessidade de aprofundar a discussão, em uma perspectiva dialética, sobre o sofrimento, o adoecimento, a luta e a resistência das mulheres/mães em decorrência da violência de Estado. Além da capital cearense, o lançamento do livro ocorre nas cidades de São Paulo, Santos, Rio de Janeiro e Salvador.