Docentes reuniram-se na reitoria da UFC e nos campi do interior para avaliar a proposta encaminhada pelo governo federal
Docentes das três universidades federais cearenses – UFC, UFCA e UNILAB – rejeitaram hoje (25), por unanimidade, com 240 votos, a proposta de recomposição salarial apresentada pelo governo federal na última mesa de negociação, em 19 de abril, e confirmaram a continuidade da greve. A votação ocorreu em Assembleia Geral da ADUFC, realizada presencialmente em Fortaleza, nos jardins da reitoria da UFC, bem como nos campi do interior – Sobral, Quixadá, Crateús, Russas, Itapajé, Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Brejo Santo e Redenção. O resultado será encaminhado ao ANDES-Sindicato Nacional, que enviará uma resposta oficial ao Palácio do Planalto até amanhã (26), após a rodada de assembleias nos estados.
A decisão de rejeitar os índices indicados pelo governo acatou a proposta construída pelo Comando Local de Greve Docente, reunido ontem (24). Também foi aprovado um bloco de encaminhamentos: mobilização conjunta para o ato do 1º de Maio; realização de aulas públicas; fortalecimento da divulgação das pautas locais; panfletaços e discussão de espaços críticos de construção coletiva; ampliação das atividades fora da universidade, com produção de camisas, faixas e outdoors; direcionamento de esforços para pressionar o Congresso Nacional, fortalecendo estratégias de comunicação; manutenção da unidade na greve; e publicização da proposta de carreira defendida pelo ANDES-SN.
Conforme sinalizado pelo governo na última semana, permanece 0% de reajuste em 2024, mas o Palácio do Planalto ofereceu 9% em 2025 e 3,5% em 2026 – a proposta anterior era de 4,5% em cada um desses anos. “Essa proposta avança, mas ainda deixa muito a desejar, porque continua sem nenhum reajuste em 2024, melhora em 2025, mas reduz em 2026”, avaliou a a presidenta da ADUFC, Profª. Irenísia Oliveira. Sobre a reestruturação da carreira docente, a análise é de que a proposta apresentada pelo governo prioriza os níveis mais avançados. “Isso preocupa porque sabemos que os níveis mais penalizados são os iniciais”, destacou .
O vice-presidente da ADUFC, Prof. Roberto da Justa, lembrou que o processo decisório do Sindicato Nacional é democrático e respeita as bases docentes, portanto a resposta ao governo federal levará em conta as decisões tomadas pela categoria nas assembleias. E complementou: “O movimento está em ascensão, em fortalecimento. E a nossa categoria tem essa característica de decidir através da base”. Já há pelo menos 30 universidades federais em greve. O Prof. Idevaldo Bodião, docente aposentado da UFC e integrante da Campanha Nacional pelo Direito à Educação no Ceará, defendeu fortalecer a mobilização para que a greve chegue a mais pessoas. “Temos que encontrar mecanismos para trazer outros companheiros para se somarem à luta, porque a tarefa é grande e vai ser demorada”, opinou.
Diálogo com a sociedade e aspecto pedagógico da greve
A Profª. Luma Andrade, diretora do Instituto de Humanidades da UNILAB, propôs que sejam fortalecidas campanhas de comunicação para dialogar com a sociedade, enfatizando outras pautas que não se restrinjam ao reajuste salarial. “Nós queremos uma pauta unificada das lutas, mas muitas vezes focamos apenas nas questões salariais e de carreira. Não podemos esquecer as pautas coletivas que fazem o movimento ficar mais forte e superar as dificuldades”, avaliou.
Na opinião da Profª. Ana Paula Farias, da UNILAB, a Greve da Educação tem um papel que transcende a pauta de lutas salariais apresentadas, configurando-se como instrumento pedagógico e de reorganização das forças políticas e sindicais após os governos golpista de Michel Temer e ultradireitista de Jair Bolsonaro. “A gente entende que permanecer na greve é fundamental para reorganizar a força trabalhadora da educação brasileira. E a extrema direita está se aproveitando desse discurso de que é ruim para o governo Lula, mas, ao mesmo tempo, está temerosa com a expansão das nossas forças na universidade”, disse.
O Prof. Eduardo Machado (UNILAB) também refletiu sobre a importância da greve como instrumento de luta e organização de processo político que vai além da luta por direitos. “Ela é decisiva e estratégica como mobilização social, mas entendo como um processo de reconstrução política dos agentes da universidade”, ressaltou. “Precisamos reconstruir os laços entre nós, a solidariedade e nos reconstruir como atores sociais legítimos. O processo de reconstrução da democracia envolve, sim, lutar por educação pública e de qualidade, e criar espaços públicos de debate coletivo”, acrescentou.
Solidariedade entre as categorias e parcerias de luta
Também compareceu à assembleia o presidente da Seção Sindical dos Docentes da UECE (Sinduece), Prof. Nilson Cardoso, que recebeu a solidariedade e o apoio dos presentes. Atualmente, professores/as das universidades estaduais cearenses sofrem dura represália do governo do estado, que replica medidas antissindicais largamente adotadas por gestões de direita para deslegitimar a paralisação da categoria, com judicialização do caso, ameaça de corte de ponto e prejuízos financeiros. A AG da ADUFC aprovou a publicação de uma nota da seção sindical em solidariedade aos docentes das estaduais.
No início da Assembleia Geral, a Profª. Rosane Nunes, diretora da Rádio Universitária FM 107,9 e docente do curso de Jornalismo da UFC, reafirmou a parceria da emissora com o movimento grevista e citou as produções já realizadas sobre essa temática desde 15 de março, quando técnicos administrativos entraram em greve. Segundo ela, são cerca de oito informes sobre a greve veiculados diariamente, um bloco do Jornal da Universitária dedicado à pauta e pelo menos dois programas do Rádio Debate por semana abordando a Greve da Educação e a precarização dos serviços públicos. Ela ainda citou a inauguração do programa diário Vem Pra Luta, das 11h15 às 11h30, com o microfone aberto a ADUFC, SINTUFCE e movimento estudantil.
Confira as reivindicações docentes e as propostas do governo apresentadas até o momento: