A solenidade contou com representantes de 79 seções sindicais do ANDES-SN de diferentes estados (Fotos: Nah Jereissati/ADUFC)
Ao som dos batuques e tambores do Maracatu Solar, mais de 600 professoras e professores deram início hoje (26) aos trabalhos do 42º Congresso do ANDES-SN, que ocorre em Fortaleza e tem a ADUFC como anfitriã. A programação se estende até sexta-feira (1º), no Centro de Convivência do Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará (UFC), com representação de 86 seções sindicais de diferentes estados. A mesa de boas-vindas foi formada com representantes da diretoria do Sindicato Nacional e da ADUFC, além de integrantes de movimentos sociais e sindicais parceiros da luta cotidiana do movimento docente. Conduzida pela Profª. Kamila Bossato (ICA/UFC), a cerimônia de abertura recebeu 457 delegadas e delegados credenciados, 132 observadores, sete convidados e 36 diretores do ANDES-SN.
Compuseram a mesa os professores Gustavo Seferian, Francieli Rebelatto e Jennifer Susan Webb, respectivamente presidente, secretária-geral e 1ª tesoureira do ANDES-SN; a Profª. Leticia Nascimento, 2º vice-presidenta da Regional Nordeste I do Sindicato Nacional; a Profª. Irenísia Oliveira, presidenta da ADUFC; o reitor da UFC, Prof. Custódio Almeida; e a Profª. Zuleide Queiroz, do Fórum Permanente em Defesa do Serviço Público – Ceará. Também estavam presentes Dandhara Cavalcante (DCE/UFC), Raiane Alencar (UNE), Maria Lucineide Paiva (FASUBRA), Kellynia Farias (Fetamce), Artemis Martins (Sinasefe), Wagner Pires (Sintufce), Adriane Nunes (Fenet), Gene Santos (MST), Pedro D’Andrea (MAM), Daniela Silva (Movimento Negro Unificado) e Edna Carla Souza (Movimento Mães da Periferia).
Em sua fala inicial, o Prof. Gustavo Seferian prestou homenagem in memoriam à Profª. Marinalva Oliveira, ex-presidenta do Sindicato Nacional, e ao Prof. Alex Santos, ex-diretor da Seção Sindical do ANDES-SN na Universidade Estadual do Ceará (Sinduece), que faleceram recentemente. Foram veiculados vídeos com depoimentos em tributo à memória dos docentes. Já a Profª. Irenísia Oliveira homenageou o primeiro presidente da ADUFC, Prof. Agamenon Almeida, que estava presente na ocasião e recebeu um certificado com a honraria do sindicato pela sua contribuição à luta sindical.
O presidente do ANDES-SN fez uma avaliação das lutas do Sindicato Nacional nos últimos anos contra o neofascismo e prestou solidariedade aos docentes vítimas de perseguição política nas universidades, especialmente nas instituições que seguem administradas por gestões interventoras bolsonaristas. Entre os casos persecutórios, citou o da Profª. Jacyara Paiva, ameaçada de exoneração da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e vítima de racismo estrutural. Outra pauta apresentada pelo dirigente foi a campanha salarial 2024 dos/as servidores/as públicos/as federais, especialmente em um contexto de perspectiva de reajuste salarial zero neste ano, conforme sinalização do governo federal.
Programação
Luta docente mira transformação social
A presidenta da ADUFC, Profª. Irenísia Oliveira, destacou a importância da capilaridade do movimento docente capitaneado pelo ANDES-SN e como ele se conecta com as diversas lutas sociais. “Aqui se mostra de uma forma mais concreta como se materializa a nossa solidariedade. As lutas ganham uma real dimensão, essas ações projetam a luta para uma outra dimensão que não é da luta corporativa, mas, sim, pela transformação social”, reforçou, salientando o momento histórico de retorno da ADUFC como seção sindical do ANDES-SN, que deve ser homologado ainda no evento.
O reitor da UFC, Custódio Almeida, manifestou-se pela autonomia universitária, defendendo que o tema ganhe mais força em instâncias como a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). “Contra a universidade, tem a ignorância (…). A universidade precisa de autonomia, precisamos retomar essa pauta, pois ela é ameaçada sempre”, ressaltou, em referência aos quatro anos (2019-2023) nos quais a UFC esteve sob intervenção federal bolsonarista. Custódio salientou ter se filiado à ADUFC lodo após ter sido empossado como docente na UFC, em 1993, e citou que o sindicato foi muito “valente” no enfrentamento à intervenção na UFC no último quadriênio, inclusive sendo perseguido pela antiga administração superior por denunciar os ataques às liberdades democráticas e à autonomia universitária.
Uma das falas potentes da mesa foi a de Edna Carla Souza, integrante do Movimento Mães da Periferia, que perdeu um filho adolescente para a violência policial, na Chacina do Curió, em Fortaleza, em 2015. Ela compartilhou um emocionante depoimento sobre a militância de mulheres em defesa da vida da juventude, especialmente negra e periférica. “Eu lamento muito vir para a universidade falar da morte do meu filho de 17 anos pela polícia. Eu queria ter vindo para a colação de grau do meu filho, mas não foi isso que aconteceu”, disse a cientista social, aplaudida de pé pela plateia no encerramento de sua fala.
Após a cerimônia de abertura, iniciou-se a plenária de instalação, na qual foi aprovado o regimento do Congresso. Também foi lançada na ocasião a 73ª edição da revista Universidade e Sociedade, que traz o histórico da luta do movimento docente contra a ditadura empresarial e militar no Brasil. Ao longo de cinco dias, professoras e professores debatem em grupos mistos e plenárias sobre cinco temas que pautam o Caderno de Textos do Congresso. Esse é o mais importante espaço de debate e deliberação do Sindicato Nacional, onde é atualizado o plano de lutas da categoria para os próximos 12 meses. Fortaleza volta a sediar o evento após 25 anos, desta vez com o simbolismo de celebrar o retorno da ADUFC como seção sindical do ANDES-SN.