Estudantes e docentes da Universidade Federal do Ceará (UFC) denunciaram publicamente, na última semana, ações de racismo no Campus do Pici que levaram ao “desaparecimento” de um mural afixado no flanelógrafo principal do corredor térreo do Departamento de Estudos Interdisciplinares (DEINTER), no Centro de Ciências Agrárias (CCA), contendo a biografia e ideias de pensadores negros brasileiros. Os cartazes resultaram das atividades do II Memória Negra, evento realizado em novembro juntamente com o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Idade e Família (NEGIF). O encontro buscou promover discussões substantivas sobre relações étnico-raciais que atravessam as políticas públicas.
Símbolo da diversidade e inclusão que devem ser reconhecidas na comunidade universitária, o mural retirado do DEINTER não é uma ação isolada. Conforme relatam estudantes, outros materiais relacionados a questões raciais já sumiram do local, como um que denunciava violência policial contra pessoas negras. “Para nós, estudantes negres, frente ao epistemicídio histórico praticado contra intelectuais negros dentro das universidades, a exposição do mural era um ato simbólico de recontar a nossa história, era um resgate da memória dos nossos que não têm seus bustos expostos em gesso ou outros minerais dentro do ambiente acadêmico”, diz trecho da carta aberta assinada pelo Fórum de Negres Guerreiro Ramos – organização autônoma de estudantes negros do curso de Gestão de Políticas Públicas da UFC – subscrita por diversos coletivos.
Na avaliação da Profª. Nazaré Soares, do DEINTER/UFC, é fundamental que temas como racismo, colonialismo, colonialidade, branquitude e eurocentrismo sejam debatidos em toda a universidade e não apenas nas licenciaturas e em coletivos. “A universidade, através da políticas afirmativas, vem diversificando seu quadro discente, contudo, isso não é suficiente. É preciso que a universidade se desloque para outro lugar. Este novo lugar abriga outras epistemologias, outras visões de ciência, de conhecimento resolutivos dos nossos próprios dilemas na América Latina”, ressalta. “Precisamos de formação urgente de professores, de disciplinas que trabalhem a questão étnico-racial em todos os nossos planos pedagógicos, de todos os cursos, de práticas antirracistas cotidianas, de protocolos de tratamento de casos de racismo, homofobia, transfobia, de espaços reais de acolhimento das vítimas”, acrescenta.
A ADUFC soma-se aos estudantes e à comunidade universitária em geral para repudiar essas práticas racistas dentro e fora dos campi universitários. O sindicato reforça a importância de ampliar as ações afirmativas à população negra, democratizando e diversificando o acesso ao ensino superior público, bem como enfrentar o debate sobre o racismo acadêmico que ainda permeia nossas universidades.