Em maio do ano passado, a comunidade universitária promoveu o ato “Universitária FM Livre!” em protesto contra a censura na emissora (Foto: Nah Jereissati/ADUFC)
Passado o período intervencionista vivido na Universidade Federal do Ceará (UFC), a democracia volta a se instaurar nos espaços da instituição. Na última segunda-feira (18), o Rádio Livre retornou para a grade de programação da Rádio Universitária FM, com apresentação do jornalista Nonato Lima. Docente do Curso de Jornalismo da UFC e ex-diretor da RUFM, Nonato foi censurado pela antiga gestão interventora da universidade, deixando em maio de 2022 a direção da rádio, que ficou sob sua gestão por 15 anos. Com sua saída, o Rádio Livre, comandado por ele há 28 anos, foi excluído da programação da Universitária FM. A censura explícita da qual o docente foi vítima gerou ampla comoção da comunidade acadêmica à época, incluindo a ADUFC, que se mobilizou para denunciar o ato. O entrevistado do programa de reinauguração foi o reitor Custódio Almeida.
Em seu retorno à RUFM, Nonato Lima celebrou a retomada da democracia e reforçou que a superação do autoritarismo só foi possível graças à luta coletiva dentro e fora da universidade. “O programa Rádio Livre está de volta! A democracia está retomando o seu lugar e nos traz até aqui. Valeu a luta. Sem luta, a democracia não teria voltado. Neste contexto de luta, a comunidade universitária, os estudantes, os servidores técnico-administrativos, os docentes, os funcionários terceirizados enfrentaram, cada um a seu modo, o desafio de reconstruir a democracia na universidade. Valeu a luta, apesar das ameaças, das tentativas de cerceamento da liberdade”, destacou o jornalista.
O reitor Custódio Almeida lembrou o papel social do jornalismo produzido pela Rádio Livre. “Esse programa é uma voz que os ouvintes estavam acostumados, uma voz livre no rádio. Você é uma pessoa muito comprometida com a liberdade e a democracia e que exerce o jornalismo como canal da justiça social. Vivemos num sistema em que as pessoas são donas das coisas, mas estamos numa emissora livre por ser universitária”, disse. “A Universidade Federal do Ceará deve ser farol de tudo aquilo que precisamos para ter uma sociedade livre, democrática, aberta e justa”, acrescentou.
ADUFC encampou luta por democracia e contra a censura na UFC
No dia 25 de maio do ano passado, professores, servidores técnico-administrativos, estudantes, movimentos sociais e sociedade civil se reuniram para dizer não à censura imposta pela antiga gestão superior da UFC à Rádio Universitária FM. Em defesa da comunicação pública e da democracia universitária, a comunidade participou do ato “Universitária FM Livre!”, que contou com cortejo, falas de repúdio ao autoritarismo da reitoria e diversas manifestações culturais. A ação coletiva foi um desdobramento do afastamento do diretor da emissora, Prof. Nonato Lima, após censura da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC) legitimada pela então reitoria da universidade.
Diretores da ADUFC empunharam uma faixa, durante a concentração do ato, em frente à Rádio Universitária, com frases em defesa da emissora. Após um momento inicial de falas contra a intervenção do governo Bolsonaro na universidade, manifestantes marcharam pela Avenida da Universidade, passando pela sede da FCPC, no Centro de Humanidades III, onde representantes do Maracatu Solar entoaram sons e tocaram tambores contra a intolerância religiosa e o racismo. Entre os motivos alegados para censurar Nonato Lima estava o incômodo da fundação com a veiculação de canções de ritmos africanos, chamadas pelos interlocutores da FCPC, instituição à qual a Rádio é ligada, de “músicas de macumba”.