Em seu primeiro ato de gestão, Custódio empossou a Profª. Diana Azevedo vice-reitora da UFC (Fotos: Nah Jereissati/ADUFC)
A Concha Acústica da Universidade Federal do Ceará (UFC) ficou lotada, na última sexta-feira (25), para empossar o reitor Custódio Luís Silva de Almeida, que assume o cargo para os próximos quatro anos (2023-2027). “Agora chegou a hora de transformar sonhos e boas ideias em projetos”, disse o novo reitor durante a solenidade histórica, que se transformou em um festivo ato pela democracia. Esse foi também o primeiro grande evento sediado na reitoria desde a pandemia de Covid-19, marcando a reabertura do equipamento. A assinatura do termo de posse ocorreu na presença do ministro da Educação, Camilo Santana, do governador Elmano de Freitas, de pró-reitores, reitores de outras universidades, senadores, deputados estaduais e federais, secretários de Estado e outras autoridades. Em seu primeiro ato de gestão, Custódio empossou a Profª. Diana Cristina Silva de Azevedo como vice-reitora da UFC.
Tanto o reitor Custódio Almeida como o ministro Camilo Santana citaram, durante seus discursos, a presidenta da ADUFC, Profª. Irenísia Oliveira, e reconheceram o trabalho da entidade em defesa da autonomia e democracia universitárias ao longo dos últimos anos. A docente foi uma das convidadas da extensa mesa de autoridades e representantes da comunidade universitária, simbolizando a legitimidade e expectativa para a posse de um reitor eleito, que põe fim a um período intervencionista na universidade. Também ocupou a mesa de convidados o Prof. Bruno Rocha, ex-presidente da ADUFC no quadriênio 2019-2023 e agora pró-reitor de Assistência Estudantil da UFC.
“A cerimônia de posse do novo reitor marcou o final de um período de retrocesso democrático na UFC e mostrou um desejo de ampliar os espaços internos de participação e a inserção social da universidade. Esperamos que esse espírito se materialize em todas as dimensões da vida universitária de agora em diante”, destaca Irenísia Oliveira. Polo de luta em defesa da UFC e contra o intervencionismo na universidade no último quadriênio, a ADUFC acaba de publicar o livro “Intervenção na Universidade Federal do Ceará (2019-2023): Autoritarismo e Resistência”, entregue às autoridades durante a solenidade. O dossiê produzido pelo Sindicato sintetiza o tempo sombrio vivenciado na UFC e registra a memória do período para que jamais se repita. O lançamento oficial da publicação será na próxima quinta-feira (31), às 18h, na sede do sindicato em Fortaleza.
A abertura do evento ocorreu em meio ao batuque e à animação do Grupo de Música Percussiva Acadêmicos da Casa Caiada e da Camerata de Cordas da UFC-Fortaleza, projetos de extensão vinculados ao Instituto de Cultura e Arte (ICA). Também houve participação especial do cantor Marcos Lessa, ex-aluno do Curso de Música da Universidade, que puxou o coro da canção “Novo Tempo”, de Ivan Lins e Vítor Martins, durante o cortejo de Custódio pela Concha Acústica até a mesa oficial. Ovacionado pela plateia, ele subiu ao palco conduzido por ex-reitores da UFC – todos escolhidos democraticamente pela comunidade universitária.
Autonomia universitária: erradicar lista tríplice é urgente
Durante seu discurso, Custódio ressaltou o fato de “o reitor ser um servidor público” e apontou a responsabilidade social que a universidade carrega. “A universidade é um misto de conservação e inovação, é o lugar da diversidade, mas com o imenso desafio de garantir a unidade. Ela precisa guardar a unidade nas suas diferenças”, disse. “Sem visão de conjunto e sem a conquista da autonomia, a universidade não se sustenta. E a universidade é um farol para a sociedade”, acrescentou.
O reitor também passeou pela história milenar das universidades e pela importância da autonomia dessas instituições. “A autonomia é prevista em várias legislações no Brasil, mas ainda precisa de regulamentação para ser vivida plenamente”, reforçou o reitor, que foi impedido de assumir o cargo em 2019 mesmo sendo o mais votado pela comunidade acadêmica e pelo Conselho Universitário (CONSUNI). Isso se deu por uma intervenção federal de Jair Bolsonaro, presidente da República à época, que nomeou o candidato menos votado. “Nós vamos trabalhar para acabar com a lista tríplice para que nunca mais ocorra o que houve com o Prof. Custódio há quatro anos”, destacou o ministro Camilo Santana. “É com muita honra que eu venho hoje reparar uma injustiça e devolver um direito que lhe foi negado há quatro anos”, completou.
Acompanhando o posicionamento do ANDES-Sindicato Nacional e de outras entidades do campo educacional, a ADUFC defende o fim da lista tríplice, assegurada pela Lei n° 9.192/1995, e a garantia de eleições diretas, transparentes e paritárias para a escolha de reitor, com o pleito começando e terminando dentro da própria universidade. Esse modelo já é adotado, por exemplo, pelos institutos federais, regulamentado pela Lei 11.892/2018 e pelo Decreto 6.986/2009.
Com 89% dos votos válidos da comunidade universitária e mais votado pelo CONSUNI, Custódio Almeida foi nomeado o 16º reitor da UFC no último dia 3 de agosto pelo ministro Camilo Santana e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A cerimônia de posse é tradicionalmente sediada em Brasília, mas neste ano ocorreu em Fortaleza, por pactuação entre o Ministério da Educação (MEC) e a universidade. A mudança buscou garantir a participação da comunidade e foi um reconhecimento à autonomia universitária ao empossar como reitor o candidato mais votado por docentes, técnicos e estudantes.