Integrando a programação do ciclo de debates Democracia e Emancipação, iniciativa da ADUFC, o filósofo Vladimir Safatle lançou, na noite da última sexta-feira (10), o livro de sua autoria “Em um com o impulso”, na sede do Sindicato em Fortaleza, e autografou exemplares de leitores na ocasião. A publicação, lançada pela editora Autêntica, é o primeiro volume da trilogia “Experiência estética e emancipação social” e dialoga sobre a estética nos processos de transformação política. O lançamento contou com o comentário do Prof. Alexandre Nunes, da Universidade Federal do Cariri (UFCA), e mediação da vice-presidente do ADUFC, Profª. Irenísia Torres.
O autor explica que o livro foi produzido em 2021, época em que foi convidado a integrar um programa, conduzido pelo governo francês, de acolhimento a pesquisadores em perigo. O contexto era o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro, caracterizado por perseguir professores e intelectuais. “Em que condições para uma sociedade, para um corpo social, chega um momento em que é difícil projetar futuros diferentes, confiar em ruptura, articular outros circuitos de afetos e formas possíveis? Me parecia que, já há um tempo, o Brasil tinha entrado nessa situação. Nos nossos piores problemas, estávamos sob os signos da melancolia”, explica Safatle, que é docente do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), além de pianista e compositor.
O livro possui três blocos principais – Autonomia, Sublime e Expressão –, divididos em sete capítulos. O volume privilegiou rediscutir o processo complexo de consolidação da autonomia estética, lembrando que esse debate nasce no interior da estética musical e pede, portanto, uma confrontação demorada com obras musicais dos séculos XVIII e XIX. No lançamento, ele também fez referências à experiência estética artística no Brasil. “Uma transformação social passa por uma revolução estética. E essa revolução estética constrói um novo povo (…). O Brasil é, antes de tudo, uma construção estética”, destacou, citando o impacto do Modernismo no Estado brasileiro.
O Prof. Alexandre Nunes destacou que Safatle resgata no livro o conceito de indústria cultural, expondo seus limites, e traz para o debate teses adornianas adaptadas à contemporaneidade. “O autor traz essa perspectiva da limitação de determinadas abordagens na relação entre arte e política”, apontou, citando debates atuais sobre a arte Queer. Ele também ressalta, na seção Autonomia, “como o tópico do indivíduo é retrabalhado” numa aposta pela heteronomia.
A abertura do evento recebeu o grupo Grupo Tresillo, apresentando um repertório de canções de matriz africana em diálogo com a cultura indígena e a raiz da cultura sertaneja. O coletivo é formado pelas professoras Maria Juliana Linhares e Catherine Furtado, do Instituto de Cultura e Arte (ICA/UFC), e pelo músico Michel Costa. O lançamento do livro também contou com a musicalidade de Jord Guedes e Mona Mendes. O encontro foi transmitido pelo canal da ADUFC no YouTube.