O presidente Lula e o ministro da Educação, Camilo Santana, se reuniram, na manhã desta quinta-feira (19), com mais de 100 reitores de universidades e institutos federais de todo o país. O encontro marca a retomada do diálogo do governo com as universidades, após quatro anos de ataques, restrições orçamentárias e intervenções na autonomia das instituições. O presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Ricardo Fonseca, afirmou que as instituições foram “maltratadas e esganadas” no orçamento durante o “período obscuro que nos antecedeu”. É preciso, agora, promover a valorização das universidades e da comunidade acadêmica. Nesse sentido, uma política de valorização de professores e professoras, tanto sobre seu papel social quanto em relação às questões salariais e da carreira docente, é fundamental.
Contrariando o sentido de retomada da democracia no Brasil, esteve presente o interventor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cândido Albuquerque, braço forte do governo Bolsonaro nos últimos anos. Com gestão prevista para encerrar em agosto próximo, sua atuação é marcada por perseguição a docentes, servidores técnicos e estudantes, da qual a ADUFC-Sindicato foi alvo recorrente, e sucessivos atos antidemocráticos. Interventor não combina com democracia!
Vale lembrar que o autoritarismo do interventor culminou na desfiliação da Andifes, instituição que cumpriu um papel fundamental na defesa das universidades no governo Bolsonaro. A saída da entidade, em julho de 2021, foi mais uma decisão unilateral de Cândido Albuquerque, que aderiu à Associação dos Reitores das Universidades Federais do Brasil, a AFEBRAS, chegando a presidir a Assembleia Geral de criação da agremiação. Para se desfiliar da Andifes, na qual participava com função institucional, seria necessária a apreciação do Conselho Universitário (CONSUNI), o que não ocorreu. Cumpre ressaltar também o negacionismo da intervenção na condução da pandemia na comunidade acadêmica da UFC, que chegou a comprar testes inúteis para covid e a discutir distribuição de cloroquina para estudantes. Cândido também fechou as portas da universidade para debates e atuou para criminalizar os movimentos sociais, com destaque para a ADUFC, em diversas ocasiões.
Desde a saída da UFC da Andifes, a ADUFC demonstrou total repúdio e buscou diversas formas – inclusive as possibilidades legais – de enfrentar a situação. Em nível local, na UFC, Cândido consolidou a prática de perseguição a docentes e as tentativas de abertura de Processos Administrativos (PADs) – todos barrados com apoio da Assessoria Jurídica do nosso sindicato. Também inviabilizou as eleições para o Diretório Central de Estudantes (DCE) e a participação estudantil nos conselhos superiores.
Nomeado de forma arbitrária pelo ex-presidente da República, com apenas 4,6% dos votos na consulta à comunidade universitária, Cândido é um árduo apoiador de Bolsonaro. Em junho de 2021, respondeu publicamente o ex-senador Tasso Jereissati, que se referiu ao ex-presidente como “o pior da história do Brasil”. “Pior que o Lularápio? Duvido! Lula reverteu todos os valores republicanos!”, afirmou o interventor em postagem nas redes sociais, depois apagada por ele após ampla repercussão negativa, como a de um internauta que disse: “A pessoa assume o cargo de reitor tendo apenas 610 votos contra 7.772 votos do Custódio Almeida e quem destruiu valores republicanos foi o Lula? Deveria se enxergar!”.
A ADUFC reitera a solicitação já enviada ao Ministério da Educação (MEC) de audiência com o titular da Pasta, Camilo Santana, para tratar de pautas relativas às universidades federais cearenses, com destaque para a intervenção na UFC. É salutar lembrarmos desse histórico recente que vivenciamos na UFC para restaurarmos a autonomia e o processo democrático na universidade.