Como parte da programação do III Congresso de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (CONPESQ), realizado entre os últimos dias 20 e 22 de setembro, a UFCA pautou o tema “Universidade e a luta por direitos humanos: desafios do debate de gênero e negritude na UFCA”. O presidente da ADUFC-Sindicato, Prof. Bruno Rocha, foi um dos palestrantes convidados para a mesa, que ocorreu na noite da quarta-feira (21/9), no Auditório Beata Maria de Araújo, no auditório, no campus Juazeiro do Norte. A palestra teve, ainda, a participação da Profª. Zuleide Queiroz (URCA), que é também 2ª vice-presidenta do ANDES-SN.
A luta pela garantia do financiamento público da educação, como a defesa dos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação foi um dos pontos destacados com veemência na discussão, por ambos os palestrantes. Desde 2018, o Brasil tem investido apenas 4% do PIB na educação pública. De acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE), no entanto, o país deveria ter aplicado 7% em 2019 (o que não ocorreu) e chegar a 10% em 2024. Esse percentual inclui os investimentos nas instituições responsáveis por mais de 90% da produção científica nacional: as universidades públicas.
Para a Profª. Zuleide Queiroz, a luta pelos 10% do PIB para a educação vai fortalecer a possibilidade de a juventude pobre, negra e feminina mulheres – “mães solo, especialmente”, destaca ela – para poderem se fixar nas universidades. “O número de evasão hoje é muito grande, porque é exatamente essa população que, muitas vezes, tem de cuidar de si e de sua família”, afirmou Zuleide. A palestra focando os direitos humanos traz essa perspectiva, segundo a docente, ao tempo em que questionou: “Direitos humanos para quem?”.
Na avaliação de Zuleide, as políticas de reparação pelas quais a sociedade brasileira vem lutando foram consideráveis e avançaram. “Mas falta muito ainda. E uma das questões fundamentais para gente nesse sentido é o financiamento da educação”, destacou, reforçada pela fala do presidente da ADUFC, Prof. Bruno Rocha, com quem dividiu a mesa. Para o docente, é fundamental a discussão sobre direitos humanos nos espaços da UFCA, e também dentro de um congresso que pauta a pesquisa e a inovação. “Principalmente no momento atual, em que precisamos restabelecer e avaliar políticas afirmativas que completam 10 anos”, disse Bruno, referindo-se à política de cotas.
O Prof. Bruno Rocha reforçou a defesa de um debate profundo para, não só garantir a manutenção da política de cotas, como a sua ampliação para outras questões. “Como a inserção de negros na pós-graduação e cotas para indígenas”, exemplificou, adicionando a efetiva discussão sobre a busca de uma equidade no cenário da pesquisa e do ambiente acadêmico em geral.
A fala do professor concentrou-se no debate em relação às disputas do orçamento para a garantia das políticas afirmativas e do equilíbrio na distribuição das assimetrias regionais envolvendo questões de gênero e raciais. “E que implicam, numa assimetria brutal, a exclusão dessas pessoas do sistema de financiamento em pesquisa e também as isola no meio acadêmico. Então, é um trabalho de todos e todas, de construir uma universidade mais democrática e mais justa”, enfatizou o presidente da ADUFC.
O espaço institucional da universidade para a discussão de temáticas como gênero e etnia “é de uma importância fundamental”, como voltou a colocar Zuleide Queiroz. A docente lembrou que, “desde o seu surgimento, como escola de altos estudos, depois com faculdades e cursos isolados, e só depois universidade”, a universidade não havia sido pensada para esse público. “Nós, o povo negro, o povo LGBTQIA+ e as nossas mulheres. Então, essa luta de crescimentos e de possibilidades vão se dar a partir de políticas de reparação. E uma delas são as cotas”, enfatizou.
Mais sobre o Conpesq
O Congresso de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação tenta estimular os alunos dos cursos de graduação e de pós-graduação da UFCA, como também de outras instituições de ensino superior, a desenvolver e divulgar atividades de produção científica. Nesta terceira edição, a temática abordada foi “Ciência e tecnologia para o desenvolvimento social”.
Além da discussão sobre a universidade e a luta por direitos humanos, desafios do debate de gênero e negritude na UFCA, o III Conpesq também trouxe temas como: o cenário da pós-graduação no Brasil e perspectivas; a mulher na ciência e os diálogo decoloniais; as contribuições do ensino e da pesquisa em saúde para o desenvolvimento social; e o combate à violência contra a mulher no ambiente universitário; universidade, ciência, tecnologia e seus futuros possíveis; entre outros. O evento foi encerrado na quarta-feira (22/9).