A exibição do filme “O Roundup frente a frente com seus juízes” (90min), seguida de debate, no último sábado (15/6), deu sequência a mais uma ação da Jornada Universitária em Defesa da Reforma (JURA 2022). O evento, realizado no Cine Benfica, pautou o impacto do uso abusivo de agrotóxicos, mais especificamente o glifosato, e suas consequências para o meio ambiente e a saúde. A atividade trouxe, ainda, discussões relacionadas à importância dos movimentos sociais, da universidade e da ciência na luta contra a disseminação desenfreada do veneno. O Cinema da Terra reflete também sobre a urgência de uma reforma agrária popular para alcançar um mundo mais justo e democrático.
Além da ADUFC e Cine Benfica, estão na organização da programação o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e o Cineteatro São Luiz, equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará, gerido pelo Instituto Dragão do Mar. Após o documentário de Marie-Monique Robin, seguiu-se um debate com participação de Lourdes Vicente, dirigente do MST-CE, e dos professores da Universidade Federal do Ceará (UFC) Roberto da Justa (do Departamento de Saúde Comunitária/FAMED e diretor de Patrimônio da ADUFC) e Franck Ribard (do Curso de História e um dos organizadores da atividade). Estudantes e professores de instituições diversas participaram da sessão, gratuita e aberta ao público. A ADUFC também foi representada na atividade pela Profª Lena Espíndola (diretora de Assuntos de Aposentados).
As produções audiovisuais que integramo Cinema da Terra refletem sobre a urgência de uma reforma agrária popular para alcançar um mundo mais justo e democrático. Abertas ao público, as atividades são uma iniciativa da ADUFC-Sindicato em parceria com o MST, Cine Benfica e Cineteatro São Luiz, equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará, gerido pelo Instituto Dragão do Mar.
O documentário “O Roundup frente a frente com seus juízes” aborda o escândalo sanitário ligado ao glifosato (Roundup), herbicida mais vendido no mundo, e a repercussão do processo contra a multinacional Monsanto. O filme traz entrevistados que testemunharam no Tribunal Monsanto, que ocorreu na cidade holandesa La Haye, em outubro de 2016, onde juízes e vítimas participaram do processo Roundup. De Marie-Monique Robin é autora de “O mundo segundo Monsanto”, “Nosso veneno cotidiano”, “Crescimento sagrado” e “Esquadrões da morte: a escola francesa”, dentre outros.
Debate: universidades como disseminadoras de informação
A união da pesquisa com o movimento social foi um ponto em comum destacado pelos/as debatedores/as e convidados/as. “Precisamos nos juntar cada vez mais, campo e cidade, para pensar um outro modelo de produção, comercialização e consumo consciente; e para fortalecer a reforma agrária e a agricultura familiar para produzir comida”, pontuou Lourdes Vicente, que também é professora do IFCE (Campus Crateús). Ela lembrou que o MST, por exemplo, é o maior produtor de arroz orgânico na América Latina. “Precisamos colocar, estudantes e professores que aqui estão, nosso conhecimento a serviço da vida, e não da morte”, enfatizou Lourdes.
Durante o diálogo com a plateia, a professora Lena Espíndola endossou a necessidade de aprofundar essas discussões na academia. “É um tema muito sério. Precisamos atuar como disseminadores dentro das universidades, junto também aos nossos alunos”, disse a docente, que se comprometeu a levar o filme aos espaços da Uece, onde também atua como professora de francês.
Nesse sentido, o Prof. Roberto da Justa criticou o fato de a temática em questão ser pouco explorada. “Mesmo dentro da universidade, onde a gente produz conhecimento, a gente dá pouca visibilidade a essa questão tão estratégica para o país”, lamentou. Segundo o docente, que atua no Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da UFC, são poucos os núcleos de pesquisa dentro da instituição que trazem essa questão ou a questão como objeto de pesquisa. “A temática é pouco explorada também nos cursos de graduação da própria área da saúde, que perpassam essas questões de forma muito pontual”, disse, em referência a temas como reforma agrária, agricultura familiar e agrotóxicos.
CEARÁ e ADUFC na JURA 2022: mais de 70 instituições parceiras
A Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária, existente desde 2014, já soma mais de 70 instituições federais que se juntam em todo o Brasil para a realização de várias atividades que se iniciam em abril e se estendem por alguns meses. O Ceará é um dos estados que, historicamente, estende para muitas atividades ao longo do ano, como lembrou José Ricardo de Oliveira, responsável pelo setor de Formação na direção estadual do MST. “São debates, feiras, exposições, cinema, lançamento de livros, palestras, colóquios. Junção entre as experiências de reforma agrária não somente do MST, mas experiências do campo e da cidade que escolas, institutos federais e universidades constroem em defesa da reforma agrária”, pontuou, destacando que a ADUFC tem sido parceira em muitas dessas ações, intensificando-as nesta 9ª edição.
“A gente precisa reconhecer o papel de muitos e muitas professores e professoras, diferentemente de outros que criticam, difamam, destroem, como interventores como o que existe aqui na Universidade Federal do Ceará, existem muitos companheiros e companheiras que fazem parte dessa luta das nossas organizações”, afirmou José Ricardo, que apresentou à plateia informações sobre a Jornada. Para ele, trazer o tema dos agrotóxicos para o debate no cinema é instigante: “É uma denúncia, quando colocamos em xeque à sociedade brasileira a forma como o capital se apropria dos bens naturais e dos venenos para fazer adoecer cada vez mais a população”.
O tema foi classificado como “desafiante” pela Profª Raquel Rigotto, que fez uma saudação em vídeo à plateia e à mesa do debate. Coordenadora do Núcleo Tramas – Trabalho, Meio Ambiente e Saúde, vinculado à Faculdade de Medicina da UFC, ela tem uma forte e histórica no combate ao uso de agrotóxicos no Ceará. “Interessante que a gente pode lançar esse olhar para a história e, embora a gente não tenha conseguido derrotar ainda esse sistema agroalimentar, esse modelo de desenvolvimento extrativista, o agronegócio e a presença tão racista e injusta dos agrotóxicos e seus impactos na saúde dos nossos povos do campo, de indígenas, de quilombolas, de comunidades tradicionais e também das populações urbanas, a gente pode olhar pra trás e ver coisas que foram construídas nesse tempo”, disse a docente.
Cinema da Terra apresentam “Chão” no dia 18 de junho
Mais um filme entra na programação do Cinema da Terra na JURA 2022. No próximo sábado (18/6), é a vez do documentário “Chão”, que será exibido no Cineteatro São Luiz (R. Major Facundo, 500 – Centro), em Fortaleza, a partir das 9h30. A exemplo do filme exibido no Cine Benfica, a entrada é gratuita e aberta ao público, e os ingressos podem ser retirados no local uma hora antes. Com direção de Camila Freitas, o documentário “Chão” (de 110 minutos) vivencia, junto ao MST, a ocupação das terras de uma usina de cana-de-açúcar em processo de falência no sul de Goiás e evidencia as muitas vozes de resistência e utopia por uma reforma agrária popular. O filme recebeu várias premiações, entre as quais do Festival de Cinema de Berlim, Festival do Rio, Festival Internacional Jean Rouch e Olhar de Cinema.