O desmonte de políticas públicas ligadas à população negra e a atuação destrutiva de Sérgio Camargo à frente da presidência da Fundação Palmares deram o tom de mais uma onda de protestos contra o governo Bolsonaro. Em Fortaleza, o sétimo ato Fora Bolsonaro ocorreu no sábado (20/11), Dia da Consciência Negra, com caminhada e manifestações político-culturais partindo da Praça dos Mártires (Passeio Público) em direção à Praça dos Leões, ambas no Centro. A ADUFC-Sindicato é uma das entidades que compuseram a articulação dos atos – no Ceará, também foram registradas manifestações em Juazeiro do Norte, São Benedito e Vale do Jaguaribe.
A pauta antirracista norteou as falas e as apresentações. No entanto, os diversos movimentos presentes ao longo do cortejo, que teve início às 9 horas, também trouxeram pautas que continuam a atingir diretamente toda a população brasileira: desemprego; pobreza e fome voltando a índices alarmantes; descontrole no custo do gás, dos alimentos, dos combustíveis, da conta de luz e da moradia. No Ceará, os atos tiveram organização coletiva – Coalizão Negra por Direitos, Movimento Negro Unificado Frente Brasil Popular Ceará, Frente Povo sem Medo e Fórum Sindical, Popular e de Juventudes de Luta pelos Direitos e pelas Liberdades Democráticas.
A coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado do Ceará (MNU-Ceará), Profª. Vilani Oliveira, reforçou a necessidade cada vez mais urgente de se atenuar as desigualdades sociais e a violência acentuadas dia a dia pela ineficiência do atual governo, e que atingem diretamente e com mais vigor, o povo preto. Para a coordenadora, unificar as pautas do Dia da Consciência Negra a mais um ato Fora Bolsonaro é “carregado de sentido”, na medida em que o governo é peça ativa do desmonte de direitos e da desconstrução das políticas públicas.
A unificação e a aliança entre diversas categorias e movimentos organizados dá força à luta contra a política de destruição escancarada do governo federal. E foi ressaltada também em falas como a e da secretária geral da ADUFC-Sindicato, profª. Helena Martins; e de Daniela Silva, da coordenação municipal do MNU Fortaleza/CE e da articulação nacional Coalizão Negra por Direitos. “Durante os quase quatrocentos anos de escravização e desde o início da República, somos alvo de violações de direitos, do racismo anti-negro, da discriminação racial, da violência e do genocídio”, afirmou Daniela.
Além das denúncias sociais realizadas por estudantes, profissionais de diversas categorias, sindicatos, e movimentos sociais, o ato de sábado envolveu manifestações artístico-culturais ao longo do cortejo e na chegada à Praça dos Leões, ao fim da manhã. Maracatu Solar, Pingo de Fortaleza e Calé Alencar estiveram entre as apresentações.
ANDES-SN: luta antirracista é central
Uma pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), com dados de 2020, mostrou que quando a pessoa de referência na casa é negra, 10,7% das famílias convivem com a fome; se é branca, 7,5%. Dados do início de julho mostram que as mortes por doença respiratória durante a pandemia cresceram 71% entre os negros e 24,5% entre os brancos. Maioria da população, negros e negras receberam apenas 23% das vacinas contra a Covid-19 no Brasil.
O ANDES-Sindicato Nacional também havia convocado, através da circular 427/2021, docentes de todo o país para se somarem ao 20N Fora Bolsonaro Racista. “São três questões centrais (para essa convocação). A primeira é que avançamos na leitura da centralidade da luta antirracista e do reconhecimento do 20 de novembro como uma data importante de resistência, de reflexão sobre as questões raciais no Brasil, e que estão postas na nossa atuação dentro da universidade, dos institutos federais e Cefets, e também no acesso aos serviços públicos”, explica Rosineide Freitas, da coordenação do Grupo de Trabalho de Políticas de Classe para as Questões Etnicorraciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS) do ANDES-SN.
(*) Com informações do ANDES-SN