As atividades do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, se somam neste ano à campanha nacional Fora Bolsonaro, com manifestações em Fortaleza e no interior, e em mais de 60 cidades de todo o país. O ato na capital cearense ocorre no sábado (20/11) e terá o tema “Fora Bolsonaro Racista – nem fome, nem bala, nem Covid”. A concentração inicia a partir das 8h no Passeio Público (Praça dos Mártires), com saída de um cortejo às 10h para a Praça dos Leões – ambas no Centro. Também realizam atos no dia 20 Juazeiro do Norte, São Benedito e Vale do Jaguaribe.
A ADUFC-Sindicato é uma das entidades que compõem articulação do sétimo ato Fora Bolsonaro em Fortaleza, organizado por Frente Brasil Popular Ceará, Frente Povo sem Medo, Coalizão Negra por Direitos, Movimento Negro Unificado e Fórum Sindical, Popular e de Juventudes de Luta pelos Direitos e pelas Liberdades Democráticas. Tendo a pauta antirracista como centro, a manifestação continua a trazer os principais problemas nacionais, como desemprego; descontrole no custo dos alimentos, do gás, dos combustíveis, da conta de luz e da moradia; e pobreza e fome voltando aos níveis do século passado.
O encolhimento do Estado e das políticas sociais, comandado por um governo federal sem compromisso com a população mais vulnerável, tem aumentado significativamente as desigualdades sociais no Brasil. E esse cenário impacta de forma mais direta as pessoas negras. É o que explica Vílani Oliveira, coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado do Ceará (MNU-Ceará).
“Neste ano, a data (20/11) ganha um significado maior diante desse governo que vem causando um desmonte nas políticas públicas e acentuando as desigualdades sociais, a fome, a vacina, que não chegou a todo mundo. Nós, pretos e pretas, somos os mais vulneráveis a essa situação”, aponta Vílani Oliveira. “É grande o desemprego no Brasil, que atinge a população preta; a violência da polícia, que sempre bate nos couros dos pretos; as balas, que sempre encontram corpos pretos; e o encarceramento em massa, que tem a cor preta”, acrescenta.
Daniela Silva, da coordenação municipal do MNU Fortaleza/CE e da articulação nacional Coalizão Negra por Direitos, reforça que o racismo estrutural produz desigualdades que atravessam as existências de negros e negras. “A população não negra cada dia mais tem consciência do descaso histórico que o Estado brasileiro tem para com nosso povo negro. Um projeto genocida, uma herança pós-escravidão que nos foi dada a condição de sobrevivência pela própria sorte e da qual somos vítimas até os dias de hoje”, afirma.
Resistência cultural e afirmação da negritude marcam atos de 20 de novembro
Além das denúncias sociais, o ato de 20/11 terá manifestações artístico-culturais na Praça dos Leões para valorizar a resistência da cultura negra – Pingo de Fortaleza, Calé Alencar e Maracatu Solar estão entre as apresentações confirmadas. “A gente não quer ser lembrado apenas pelas nossas dores, mas por pautas afirmativas e reparadoras. É importante dar visibilidade e externar nossa alegria, nossos cantos, danças, vivências, relembrando a nossa ancestralidade e reverenciando os que vieram antes de nós e abriram caminhos para que a gente trilhasse essa caminhada coletivamente”, diz Vílani Oliveira, do MNU-Ceará.
Com a ascensão de Jair Bolsonaro à presidência da República, houve um aumento da exclusão social, e o alvo maior continua sendo o povo negro: 38% das mulheres negras estão na miséria. Também são os negros que lideram os índices de desemprego e amargam os piores postos de trabalho, com remuneração média quase R$ 1.000 abaixo dos trabalhadores brancos. A taxa de informalidade também revela o racismo estrutural no país: 30,1% para os empregos dos brancos, 39,9% para os pretos e 43,5% para os pardos.
O dia 20 de novembro faz referência à morte de Zumbi dos Palmares e à destruição do complexo do Quilombo dos Palmares, em 1695. É uma data histórica de luta e resistência que está na agenda do movimento negro desde os anos 1970. Tudo teve início quando o Grupo Palmares, de Porto Alegre, em 1971, promoveu o primeiro ato público em homenagem a Zumbi dos Palmares, em contraponto à celebração de 13 de maio. O 20/11 rejeita a generosidade escravagista com que é representada a princesa Isabel e o colonialismo cultural, e reivindica o protagonismo e a visibilidade da cultura negra.
Atos #ForaBolsonaroRacista
Quando: 20 de novembro de 2021 (sábado)
Fortaleza – concentração às 8h no Passeio Público, com cortejo saindo às 10h para a Praça dos Leões (ambas no Centro)
Juazeiro do Norte – 9h – Horto | 10h – Panfletagem na Praça Padre Cícero |
16h – Ato Cultural na Praça do Giradouro
São Benedito – Praça dos Índios, às 8h
Vale do Jaguaribe (ato regional) – Acampamento Zé Maria do Tomé, às 7h (café compartilhado)