A discussão sobre os recursos e o estabelecimento da interação e acesso ao conhecimento entre surdos, educadores e demais profissionais interessados ganha uma nova aliada, a partir da próxima sexta-feira (12/11), quando começa a Jornada ADUFC e Rede Surdos: as lutas surdas em foco. Em atividades mensais, mesas-redondas transmitidas em formato virtual (lives) reunirão docentes e estudantes acerca do tema. A primeira live tem início às 15h, com transmissão pelo canal da ADUFC no YouTube.
Em mais uma iniciativa de ampliação da acessibilidade e pluralidade reforçadas desde a última gestão do sindicato, a entidade realiza a jornada através do Grupo de Trabalho (GT) Comunicação e Cultura, junto com a Rede Surdos – projeto colaborativo voltado à educação de surdos capitaneado pelo Departamento de Letras Libras e Estudos Surdos da Universidade Federal do Ceará (DELLES/UFC) e entidades parceiras. Na mesa de estreia, três professores e uma estudante da UFC participarão do debate, mediado pelo Prof. Tiago Coutinho, coordenador do GT e diretor de Atividades Científicas e Culturais da ADUFC.
A promoção da cultura surda e da acessibilidade a essa comunidade intensificada pelo sindicato é destacada pela Profª Margarida Pimentel (DELLES/UFC), uma das coordenadoras da Rede Surdos e também uma das organizadoras da jornada. “Nossa ideia é discutir as lutas da comunidade surda sob vários aspectos; e também aproveitando a participação ativa que ela tem na própria UFC e na ADUFC”, inclusive nos espaços deliberativos, como o Conselho de Representantes do sindicato, acrescenta a docente.
A luta pela inclusão e a Língua Brasileira de Sinais (Libras) – aspecto central da cultura surda – vai “passear” pelos debates ao longo das várias lives programadas para a jornada. A primeira delas, no próximo dia 12, terá a participação dos professores Rundesth Nobre e Rodrigo Machado, além da própria Margarida – todos da UFC. Rundesth integra o Conselho de Representantes da ADUFC e é mestre em Linguística. Já Rodrigo é intérprete de Sinais Internacionais, professor do DELLES e doutorando em Linguística – pesquisador surdo que se encontra atualmente na Alemanha realizando estudos.
Dessa atividade de estreia, também participará como debatedora a estudante Tatiana Souza, aluna surda do curso de Ciências Contábeis da UFC. Ela relatará, entre outras coisas, a experiência de ter estudado durante toda a educação básica sem contato algum com pessoas surdas. O pouco que aprendeu, segundo afirma a Profª. Margarida Pimentel, foi numa convivência breve com uma professora na infância, e que conhecia sinais bem elementares. “E foi ela quem ensinou alguns sinais pra Tatiana. Mas a professora foi transferida e a menina ficou na escuridão de novo. Com o passar do tempo, ela foi esquecendo dos sinais que aprendeu”. A jornada da estudante até ser aprovada no ENEM e sua experiência na UFC é um bom exemplo da importância do pertencimento a uma comunidade.
“Sigo os ensinamentos de Paulo Freire sou apaixonada por todas essas interações que a comunidade surda nos proporciona e pela história de cada um. Porque as pessoas falam da educação do quilombola, da educação indígena, mas não entendem que os surdos precisam conviver com seus pares e com surdos adultos para favorecer a proficiência em sua própria língua. E é por isso que a gente vem com essa jornada. A ADUFC já tem uma prática nesse sentido. E é mais uma forma de a gente sair dos nossos muros”, explica a coordenadora da Rede Surdos.