Antônio David S. de Almeida (Presidente do CAMPE – Centro de Apoio a Mães e Pais de Portadores de Eficiência; Aluno com Paralisia Cerebral do Curso de Pedagogia/UECE)
Em março de 2020, a minha pessoa tinha acabado de passar por um procedimento cirúrgico, por haver arrancado um dente. Solicitei aos meus professores da UECE, na qual curso graduação em Pedagogia, para adiar, se necessário fosse, alguns trabalhos e provas. Na minha recuperação, pensava que, em poucos dias, voltaria aos bancos acadêmicos, e a outras atividades, como igreja e natação. Uma virose invadiu o cotidiano da família. Quando estava me recuperando, uma notícia, na mídia, tomou conta dos quatro cantos do Planeta.
De repente, tudo mudou. Não se falava (nem se fala) em outro assunto, nos jornais e em outros programas noticiários. Tudo isto causado por um tipo de infecção de um vírus, que provoca uma doença chamada Covod-19. Esse problema abalou toda a sociedade mundial. As pessoas se viram obrigadas a deixar, de forma temporária, seus trabalhos, seus estudos, cancelar suas reuniões – seja que âmbito for -, etc. Não poderia haver aglomerações de pessoas em lugar algum, para não ocorrer risco de contaminação da doença. A nós, era permitido sair de casa somente em uma extrema necessidade, principalmente aqueles/as chamados/as grupo de risco, sem falar que os que saíssem eram orientados/as a usar máscara de proteção e passar álcool em gel em suas mãos. Em toda a minha vida, nunca vi nada igual.
Nesta ocasião, eu não fazia mais minha programação diária e meus horários, isto é, “tal hora farei isto”, “tal hora farei aquilo”. Afinal, do que adiantava elaborar projeções? Não havia diferença entre dia útil, finais de semanas e feriados.
Todos estes fatores fizeram com que as atividades, nos mais diversos âmbitos da sociedade, se dessem por meio de muitos aplicativos da internet, ou seja, de forma virtual. Por incrível que possa parecer, até meus vinte e seis anos de idade, eu não sabia mexer em absolutamente nada em computador e, muito menos, na internet. “E agora?“, dizia eu.
Por conta de alguns problemas que enfrentei em minha universidade, consegui um Atendimento na Faculdade de Educação da UFC, pois já conhecia algumas professoras de lá, uma vez que éramos e somos parceiros na luta pela inclusão escolar das pessoas com deficiência. Embora que, no momento em que passei no vestibular, tivesse ganhado de uma pessoa um notebook, eu era “analfabeto digital“. No atendimento citado, contudo, aprendi a usar alguns canais de comunicação, como e-mail e facebook, e conheci o word e o drive, onde armazeno minhas coisas. Iniciei esse atendimento entre os anos de 2014 e 2015, e continuo lá até hoje. Só parou por causa da pandemia. Esse serviço funciona a partir de uma bolsa para algumas alunas do Curso, e várias das mesmas já me auxiliaram nisso. Apesar destes meus aprendizados, ainda faltava eu conhecer outras inúmeras ferramentas virtuais. Em fevereiro de 2019, comprei um tablet e minha irmã me ensinou como utilizar o watsApp, pois meus celulares que possuí, até então, sempre foram de botão e nunca tinha aprendido a usar esses tipos mais modernos. Sempre quando aprendia uma ferramenta, já aparecia outra mais nova. Mas o watsaApp era, e ainda é, de muita valia. Me aperfeiçoei em outras funções do tablet e o meu atendimento na UFC me ajudou bastante nessas questões. Com as atividades virtuais, devido à pandemia, fui obrigado, no bom sentido da palavra, a me aperfeiçoar em alguns aplicativos.
Diante do contexto citado, nesta quarentena passei a fazer uso do Instagram, e também tomei o conhecimento de um aplicativo que eu nunca ouvi falar antes, o Google-Meet. Pelo motivo de que o Atendimento se encontra parado, aprendi essas ferramentas digitais com outras pessoas. Na atividade de jovens da igreja na qual me congrego, por exemplo, eles enviam o link pelo grupo da juventude do watsaApp, e disseram que era somente eu clicar no mesmo e eles aceitarem minha participação. Na reunião da instituição na qual estou na Presidência atualmente, me aperfeiçoei em enviar, eu mesmo, o link, embora que, nas primeiras vezes, outra pessoa, que já era mais afinada nesse tipo sistema, realizava o procedimento. Outro ponto importante foi que eu não sabia ligar e desligar o microfone, enquanto que os demais participantes o faziam. Mas, depois, aprendi a fazer isso.
Apesar destas conquistas, ainda não estou conseguindo marcar minha presença em algumas atividades, pois meu aparelho é novo e não quero usá-lo enquanto carrega, para não prejudicar a bateria. Só o meu notebook utilizo carregando, uma vez que, se eu não adotar essa medida, não dá tempo eu fazer as minhas diversas tarefas. No entanto, já considero uma evolução, se levar em conta todos os obstáculos por mim enfrentados ao longo da existência de minha vida. Entretanto, tenho a plena convicção que, como cada indivíduo, morador deste Planeta, estou e sempre estarei em constante aprendizado nos diferentes setores da vida. Um ser humano que se sente já saber tudo e acha que não necessita de aprender mais nada, precisa, na realidade, descobrir o que é viver. Eu, por exemplo, irei, em pouco tempo, me formar em Pedagogia e percebo que meus alunos muito me ensinarão. Já tive uma certa experiência bastante positiva na época em que fiz as disciplinas de Estágio da Faculdade.
Diante de todo este meu relato, não querendo, obviamente, dizer que a situação de isolamento social, provocado pelo novo Coronavírus ou Covi-19, como queiram chamar, foi bom, sinto que obtive tempos de boas aprendizagens. Fato semelhante ocorreu no ano de 2016, em uma greve da UECE, na qual faço graduação, que tive bastante tempo para aprimorar meu Pré-Projeto do Trabalho de Conclusão de Curso/Monografia, e introduzir o aprendizado de uso do notebook. A greve daquele ano me ajudou um pouco. Estas são as minhas memórias de quarentena!!!