Fruto de um confronto proativo de ideias, anseios, propostas, entendimentos, sentimentos e necessidades, a Faculdade de Educação (FACED) da UFC lançou, na última quarta-feira (5/8), o Plano Participar e Incluir, elaborado para o enfrentamento dos desafios educacionais no contexto da pandemia de Covid-19. O documento de 49 páginas foi desenvolvido ao longo dos últimos três meses e é resultado do trabalho coletivo de docentes, discentes e técnicos-administrativos. A iniciativa foi aprovada pelo Conselho Departamental da FACED no dia 30 de julho e é também uma resposta ao Plano Pedagógico Emergencial (PPE) imposto pela administração superior da universidade. O Plano Participar e Incluir utiliza o conceito de “atividades educativas emergenciais”, em detrimento do “ensino remoto”, e tem como um de seus pilares o lema: “Nenhum aluno a menos”.
As várias estratégias utilizadas para elaboração de princípios e ações basilares para a retomada das atividades acadêmicas da FACED findaram em uma proposta que tenta ressignificar as práticas existentes. A ideia é não apenas elaborar, mas também executar o plano de forma coletiva. A diretora da FACED, Profª. Heulália Rafante, afirma que foram realizadas inúmeras reuniões setoriais de diferentes áreas do conhecimento, buscando uma prática pedagógica mais integrada e interdisciplinar, visando esse planejamento coletivo.
“Sabemos da dificuldade que isso significa, mas estamos trabalhando para superá-las. O ensino, com mediação das tecnologias, precisa da interação entre os estudantes e de uma relação bem próxima entre os professores e esses alunos. Os tempos e os espaços pedagógicos precisam ser reivindicados”, explica Heulália. Na avaliação da professora, há uma mudança significativa para as práticas docentes, que vão muito além de simplesmente se transferir o que era feito presencialmente para a mediação de uma tela.
Por uma prática emancipadora e não excludente
Entre os destaques da iniciativa da FACED, está o conceito adotado pelo Plano: atividades educativas emergenciais. O termo foi o escolhido porque o trabalho vai além da utilização das tecnologias digitais da informação e da comunicação pra mediar o conhecimento e as relações pedagógicas entre docentes e estudantes. “Estamos tentando não fazer isso de forma superficial e automática, mas buscando apreender os princípios pedagógicos já existentes no cenário educacional, que nos orientam a pensar uma prática significativa, colaborativa e emancipadora para os estudantes”, reforça Heulália Rafante.
A preocupação com a evasão também permeia todo o documento, que se opõe ao plano da reitoria principalmente no que se refere aos trancamentos. A resolução que definiu o PPE estabelece que o aluno pode trancar matrículas até o dia 22 de outubro. “Por mais que isso venha travestido de uma possibilidade de flexibilização, nós deixamos claro que isso, na verdade, representa uma exclusão dos estudantes”, destaca a diretora da FACED. O Plano Participar e Incluir não recomenda nenhum trancamento e que se evite qualquer tipo de evasão. “Pra nós, o fato de um aluno trancar uma matrícula é uma perda do direito que ele tem”, enfatiza a Profª. Heulália, acrescentando que todos os olhares estarão voltados nessa perspectiva de acolhimento e atenção. Nesse sentido, também foi formada uma comissão de planejamento que vai acompanhar toda a execução do Plano da FACED e auxiliar na definição, de forma sistematizada, cada etapa do processo para avançar na implementação desse plano.
Importância do ensino presencial e do sentimento de pertença
Outro ponto do texto colaborativo diz respeito à importância do ensino presencial na produção do conhecimento e no processo ensino-aprendizagem. Nesse tópico, foram discutidos como são fundamentais as interações nesse processo. E como, mesmo na modalidade Ensino a Distância (EaD), essa questão não está fora da discussão. O Plano da FACED também se respaldou em autores que indicam que as questões relacionadas à evasão em cursos ministrados a distância dizem respeito justamente à falta de interação e do sentimento de pertença. “Estamos buscando acolher os estudantes de forma muito significativa. No texto, um dos autores cita exatamente isso: que nesses cursos de EaD, a prioridade dos estudantes é maior por esse sentimento de pertença, essa identidade eletrônica mais do que o acesso ao próprio conhecimento”, argumenta Heulália Rafante.
Os processos foram sistematizados em três princípios: questão da disciplina do estudo; trabalho colaborativo com e entre os estudantes; e a própria integração entre as turmas dos estudantes e seus professores. Esses eixos seguem no fluxo inverso ao que foi imposto pela reitoria da UFC, que tenta, a todo custo, implantar um ensino remoto de forma repentina e sem um planejamento mais cuidadoso na transição do presencial para o remoto. “Sem essa preparação, infelizmente os índices de evasão podem ser muito grandes. Então, partindo desses princípios e desse entendimento de que estamos vivendo no meio de uma pandemia, a gente precisa evidenciar esse acolhimento dos estudantes para garantir todas as condições para o seu processo de ensino-aprendizagem”, afirma a diretora da FACED.
O documento construído a muitas mãos também aponta conteúdos e estratégias numa perspectiva interdisciplinar e que deve ser trabalhada por eixos temáticos ao invés de disciplinas. Na prática, é uma forma de ressignificar o tempo e o espaço pedagógicos, além da avaliação – esta última, entendida como um todo integrado ao conjunto de aspectos do ensino e da aprendizagem, a exemplo do currículo, metodologias e estratégias pedagógicas.
Práticas e vivências sob mudança em tempos de pandemia
As estratégias citadas envolveram pesquisa sobre as condições de saúde, socioeconômicas, de acesso à internet, de realização do ensino com uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação de todos que compõem a comunidade da FACED. Também foram realizadas reuniões do Conselho Departamental, dos Colegiados dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação, dos Colegiados Departamentais, de Comissões de Trabalhos Específicas, de Assembleias Estudantis promovidas pelo Centro Acadêmico Paulo Freire, de reuniões dos Técnicos-administrativos e reuniões ampliadas com os três segmentos dessa Unidade Acadêmica.
Também ocorreram debates virtuais e lives, em vários momentos, ao longo da elaboração do Plano. As ações, contudo, não foram finalizadas com a publicação do documento. Elas devem seguir durante todo o período de realização das atividades acadêmicas do semestre 2020.1. A atividade de planejamento é permanente, com o objetivo de assegurar uma educação de qualidade, com igualdade de acesso dos estudantes e condições de trabalho docente.
A execução do Plano Participar e Incluir passa, ainda, pela mobilização de todos os conhecimentos que devem ser desenvolvidos na FACED ao longo do semestre para discutir, analisar e também produzir conhecimento sobre o momento atual. Também funcionará como uma espécie de fio condutor o pensamento sobre todas as estratégias pedagógicas mobilizadas para o entendimento do momento, e especialmente as que se referem aos aspectos da educação.
Na FACED, a comunidade acadêmica tem estado atenta às grandes mudanças nas práticas e vivências que já começaram a ser experienciadas. “Sabemos que alguns vão se adaptar de forma mais rápida e outros, de forma mais lenta. Mas é justamente por isso que estamos buscando esse trabalho coletivo pra que toda a comunidade avance nesse cenário. É muito desafiador e, ao mesmo tempo, pode sim trazer muitos aprendizados pra gente atravessar esse momento tão difícil pra humanidade e que não deixa de afetar – e todo mundo está vendo isso – a educação”, resume a Profª. Heulália Rafante.
(*) O Plano “Participar e Incluir: por uma pedagogia colaborativa no contexto da pandemia – Atividades educativas emergenciais da FACED (UFC)” pode ser acessado em três formatos. Além da versão em PDF, ele pode ser lido nas plataformas digitais ISSUU e Calaméo.