Um dos principais papéis sociais do Jornalismo é apontar inconsistências, inadequações e até desvios de instituições em relação ao interesse público. Em geral, interessam ao jornalismo tanto as instituições públicas como as privadas, mas às públicas costuma ser destinado um olhar ainda mais aguçado – afinal, estas devem estar voltadas à coletividade, para beneficiar a população da forma mais ampla possível. Quando uma instituição pública é submetida a interesses de um grupo político específico, trata-se de um desvio grave, que merece sim a atenção de jornalistas para que essa postura seja devidamente exposta e colocada em discussão pela sociedade, para que isso, enfim, seja alterado.
Foi o que fez o jornalista cearense Demitri Túlio ao tratar da postura do Colégio Militar de Fortaleza (um colégio público) em relação à pandemia de Covid-19 em um texto publicado no último domingo (dia 26/7), no jornal O Povo, com o título “Um colégio que nega a pandemia?”. Uma postura que tem sido marcada pelo negacionismo, como relatam pais de alunos, seguindo o comportamento de um grupo político muito específico, que considera o coronavírus uma “gripezinha” e divulga medicamentos aleatórios como a verdadeira cura da doença, mesmo diante de quase 90 mil mortes confirmadas somente em território brasileiro, em pouco mais de quatro meses de disseminação do vírus.
Demitri fez o que costuma fazer, com coerência e profissionalismo ao longo de toda a sua premiada carreira de jornalista: ouviu diferentes fontes, checou as informações e relatou o que havia apurado em sua coluna de opinião no referido veículo de comunicação.
Logicamente, como toda e qualquer publicação jornalística, ainda mais sendo de caráter opinativo, pode haver discordâncias, críticas. Porém, a reação ao texto se deu como uma verdadeira perseguição, combinada a uma tentativa de destruição da reputação do jornalista, difundida pelas redes sociais.
Mais do que expressar algum nível de divergência em relação ao que foi publicado, esse tipo de ação expõe uma tentativa de calar o jornalista e qualquer outro que eventualmente possa criticar um comportamento oriundo de militares que, alinhados ao governo Bolsonaro, negam a ciência, negam números, negam a realidade, para se manter no poder.
Nós, que fazemos o Grupo de Trabalho de Comunicação e Cultura da ADUFC-Sindicato, expressamos nesta carta toda a solidariedade ao jornalista Demitri Túlio. E reforçando que, de maneira alguma, movimentações truculentas e alinhadas a um obscurantismo negacionista terão força suficiente para calar o debate público.
Fortaleza, 30 de julho de 2020
Grupo de Trabalho de Comunicação e Cultura da ADUFC-Sindicato