“Apesar de constarem em lista do Ministério da Educação (MEC) entre as 15 universidades federais que retomaram o ensino de forma remota, tanto a UFFS (que consta como retomada parcial) quanto a UFC ainda estão longe de ter esta questão efetivamente solucionada junto à totalidade dos estudantes”, informa reportagem publicada nesta quinta-feira (18/6) pelo Sindicato dos Professores das Universidades Federais de Santa Catarina (APUFSC).
A imprensa do sindicato levantou informações sobre duas dessas universidades que estão sob intervenção de reitores nomeados por Bolsonaro: a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e a Universidade Federal do Ceará (UFC). Ambas têm enfrentado dificuldades que vão muito além daquelas inerentes à situação de pandemia que afeta toda a população e que dificulta a retomada do ensino pelas instituições federais.
Confira alguns trechos da reportagem da APUFSC:
“O objetivo maior da reitoria tem sido, em toda a gestão da crise, forjar uma normalidade inexistente ”, destaca a ADUFC
Embora o reitor interventor Cândido Albuquerque tenha comunicado ao MEC a retomada do ensino na Universidade Federal do Ceará, não há nem mesmo “um plano mínimo por parte do órgão responsável pela acessibilidade na UFC”, destacou a ADUFC, Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará, no manifesto em que critica a Proposta Pedagógica de Emergência (PPE) apresentada pela pró-reitoria de Graduação, publicado em 6 de junho.
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No dia 12 de junho, a ADUFC enviou à reitoria e à Prograd um ofício com as reivindicações do Conselho de Representantes: a suspensão do semestre letivo 2020.1, a ampliação do tempo para o planejamento e reconstrução da PPE e um prazo maior para a capacitação dos docentes e alunos. O CR também solicitou que o plano considere as pesquisas sobre o ensino remoto feitas pelas coordenações de curso sobre a situação dos estudantes.
“No entendimento do Conselho, a UFC deve se comprometer com garantias, ampliação e prorrogação dos auxílios estudantis, e com o fornecimento de condições laborais adequadas aos docentes que as requisitarem”, diz o ofício do CR.
Segundo o manifesto do sindicato, “desde a sua apresentação, a PPE já revelava a pressa da construção, que nada tem a ver com emergência. A proposta apresentada não passa de uma compilação desarticulada de textos das pró-reitorias. Sobretudo, a falta do texto da Secretaria de Acessibilidade é reveladora da atitude da reitoria de minimizar dificuldades, de não se comprometer e jogar para a comunidade universitária a solução individual dos problemas”.
Segundo a ADUFC, a pró-reitoria se baseou em uma “realidade paralela” ao tomar como referência uma “pesquisa conduzida pela PRAE que revelou que apenas 1% dos estudantes não tem acesso à internet, divergindo totalmente de todas as demais pesquisas feitas pelas unidades acadêmicas e do próprio DCE, que estimou esse número em 33,6%”.
Em outro trecho do manifesto, a ADUFC destaca que a proposta desconsidera “as especificidades das diferentes unidades acadêmicas”, principalmente nos cursos com aulas práticas. O sindicato também salientou que “o objetivo maior da reitoria tem sido, em toda a gestão da crise, forjar uma normalidade inexistente e maquiar problemas e dificuldades, para não se comprometer com soluções reais e satisfatórias”.
O Conselho Universitário (Consuni) aprovou uma resolução que permite a adoção de atividades remotas por disciplinas de graduação e de pós-graduação de forma voluntária. O presidente da ADUFC, Bruno da Rocha, estima que “o percentual de adesão a esse tipo de modalidade até agora na UFC é íngreme, então a gente avalia que nem 15% das disciplinas estejam sendo ministradas na modalidade remota”.
Sobre a intervenção na UFC
Em agosto do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro nomeou o atual reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cândido Albuquerque, que foi o candidato menos votado. Terceiro colocado da lista tríplice, ele havia recebido 610 votos na consulta pública, enquanto o primeiro colocado teve 7.772 votos. A intervenção provocou reações com o mote “Fora Interventor” por parte da ADUFC e da comunidade universitária.
Cerca de 90% dos alunos continuam sem aula na UFFS
A UFFS adotou um modelo que permite dar continuidade em parte das disciplinas, assim como outras cinco universidades federais no país. A primeira proposta de ensino remoto apresentada pela reitoria foi de adotá-lo como regra. Professores teriam que adaptar suas disciplinas para o meio digital imediatamente, enquanto alunos poderiam escolher entre aderir ou cancelar o componente curricular. Importante ressaltar que a UFFS não conta com cursos de Ensino a Distância, portanto não tem infraestrutura e expertise na área.
“A gente pressionou para mudar a proposta da reitoria. Primeiro, suspendemos o calendário acadêmico [por duas semanas]. Depois, se oportunizou que alguns componentes [curriculares] pudessem oferecer 40% da carga horária em ensino remoto”, conta Willian Simões, membro da comissão de avaliação do ensino remoto emergencial no Conselho Universitário (Consuni) e filiado do SINDUFFS.
No Consuni, onde a oposição ao reitor é ampla maioria, a deliberação possibilitou a retomada das atividades de ensino de modo não presencial a partir de uma série de critérios. Das 1.758 turmas ofertadas pelos cursos de graduação nos seis campi da Fronteira Sul, apenas 77 cumpriram os critérios. Ou seja, 95% das turmas não foram contempladas com o ensino remoto. Apenas cerca de 750 dos oito mil alunos da universidade participaram do ensino remoto emergencial até agora – o que significa que 90% dos estudantes continuam sem aula.
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(*) Para ter acesso à reportagem completa da APUFSC, assinada pelas jornalistas Ilana Cardial e Emily Menezes, CLIQUE AQUI.