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MEMÓRIAS DE QUARENTENA 01: A VIDA COTIDIANA EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS

Ângela Pinheiro (Professora da UFC)
Alba Carvalho (Professora da UFC)

Pandemia do Covid-19 ou pandemia do coronavírus fez o mundo parar, transformando profundamente o nosso alucinante modo de vida. Sem tempo para nada, muito menos tempo para pensar o mundo e pensar-se como sujeito na cena do mundo. PARAMOS! Fomos obrigados a parar e ficar em casa… Recolhermo-nos, em uma situação impensável para nós até antes deste março de 2020! É o isolamento social, quarentena, como passamos a dizer… Para alguns, e nós nos incluímos neste grupo, tem sido tempo de aprendizagem, de reflexões, de perseverança. Tem sido tempo de tolerância e de observação. De pensar antes de falar. Ainda não conseguimos dimensionar tudo o que está acontecendo no mundo, no Brasil, no Ceará; o que está acontecendo dentro de nós, em torno de nós e entre nós. Acreditamos que somente após a quarentena, e aos poucos, vamos poder sentir, com mais clareza, toda esta vivência.

É uma experiência muito única, muito coletiva, de extrema interdependência. Estamos todos e todas – no mundo inteiro! – mergulhados no desconhecido, no incomparável, em mares de imensa ameaça e insegurança – estamos a depender, em muitas dimensões, da sensatez (no mínimo) de governantes, muitos dos quais mantêm alianças espúrias com setores gananciosos e desumanos, orientados pelo lucro, pela exploração de trabalhadores, para que gozem do luxo, do desperdício, do aprofundamento das desigualdades. É tempo de muita tensão, portanto, entre interesses inconciliáveis – preservação da vida, da saúde coletiva em contraposição aos denominados interesses do capital.

É tempo de solidão e solitude. É tempo de solidariedade e de empatia. É tempo de nos orientarmos pela ciência e pela técnica, que hão de estar sempre articuladas com humanidade e compaixão.

É tempo de angústia e de indignação, em um Brasil (des)governado por um presidente vacilante, sem perspectiva do bem comum, sem capacidade de pensar e sentir o país, submetido aos interesses do capital e das perigosas forças conservadoras que o elegeram… forças que abusam do nome de Deus para defender interesses escusos, numa blasfêmia e injustiça ao que ensinou o Jesus crucificado que rememoramos nesta Semana Santa de 2020! O governo que investe pesadamente contra a ciência, contra as Universidades Públicas e o pensamento crítico… É um governo que se contrapõe, de forma irresponsável e alucinada, às definições difundidas pelas autoridades de saúde que, baseadas em estudos e em constatações das tragédias mundiais, determinam, com veemência, o isolamento social, como única alternativa para barrar a expansão incontrolável do vírus Covid-19.

É tempo de insegurança face às ultimas posições do Governo do Estado do Ceará que, após medidas imprescindíveis de isolamento social, oscilou entre preservar a vida e ceder às pressões das forças produtivas a sustentar a morte com a proposta genocida de voltar ao funcionamento das indústrias, do comércio e dos setores de serviço de toda espécie… Em verdade, é esta uma proposta a empurrar milhares de trabalhadores para a morte, como saída sem volta. É estarrecedor pensar isso, justamente no Ceará, considerado um dos estados em que os índices de expansão da pandemia crescem assustadoramente.

Precisamos cerrar fileiras na luta coletiva contra o coronavírus e só existe uma alternativa: manter o isolamento social e ficar em casa!

Inegavelmente, a pandemia do coronavírus está sacudindo a humanidade do torpor e cegueira em que vivia e abriu uma grande janela de onde estamos vendo, com clareza, a nudez selvagem e trágica do capitalismo… O capitalismo está nu! A lógica do mercado e suas políticas neoliberais mostram-se absolutamente incapazes de garantir a vida das populações. Mais do que nunca, impõe-se a exigência do Sistema Universal de Saúde, dos serviços públicos e dos padrões de proteção social. Aproveitemos a quarentena para viver a plenitude da existência humana em todas as suas dimensões, incluindo a crítica sobre esta civilização do capital e seu modo de vida que chegou ao limite, esgotou-se, culminando com a pandemia do coronavírus. Fiquemos em casa, exercitando a partilha, a solidariedade, o aconchego e a vida no coletivo.

Seção sindical dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará

Av. da Universidade, 2346 – Benfica – Fortaleza/CE
E-mail: secretaria@adufc.org.br | Telefone: (85) 3066-1818

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