Uma homenagem à mulher afro-latino e caribenha e três espetáculos em um, como mote para fonte de disposição e esperança, e em convocação para uma cobrança que nem de longe pode cessar: de justiça, políticas públicas e construção de uma cultura de igualdade e respeito às mulheres. Assim, a ADUFC realizou a festa ILUSTRÍSSIMAS na última sexta-feira (6/3), na sede do sindicato, em Fortaleza. A atividade, aberta ao público, integrou-se ao calendário local de lutas e de celebração ao Dia Internacional da Mulher, e deu sequência ao ciclo de comemorações dos 40 anos da ADUFC que, em 2020, completa quatro décadas de luta por direitos, de defesa da universidade pública e também de construção de afetos e de aproximação com a sociedade.
Antes de lutar nas ruas no ato unificado marcado para o domingo seguinte, a sexta-feira foi de luta contra a violência, a misoginia e a marginalização de mulheres. Mas em um formato de matizes diversas, com luz, sons, cores e as vozes potentes das artistas Luiza Nobel, Apá Silvino e Indiana Nomma, que apresentaram os espetáculos Baile Preto, Maior e Tributo à Mercedes Sosa, respectivamente. Elas deram o tom da festa, que nasceu do Grupo de Trabalho Políticas de Classe e Ações Étnico-raciais da ADUFC e que contou ainda com apresentação das DJs Sil&Sis,. “A ideia era que cantássemos as lutas das mulheres em suas diferentes experiências de feminilidade”, explicou Inês Escobar, professora do curso de Economia Ecológica da UFC e uma das integrantes do GT.
Segundo Inês, os shows das três artistas apresentam-se como saberes importantes e que lançam um olhar diferente sobre o que é intelectualidade. “No Brasil, a sub-representação das mulheres é um fenômeno em movimento e vem se alterando rapidamente. Não há dúvida que as ações que ampliam a participação feminina na atividade científica devem gerar ganhos substantivos nos próximos anos”, acrescentou a professora, em sua saudação ao público.
Três em um: vozes de várias cores
Dividido em três momentos, a festa ILUSTRÍSSIMA foi iniciada com a cearense Luiza Nobel, que apresentou uma nova versão do Baile Preto e uma banda de apoio composta somente por mulheres. Num divertido passeio musical, mas sem esquecer da denúncia e da ancestralidade, ela cantou o basta à violência contra a mulher, mas sobretudo à mulher negra.
Em seguida Apá Silvino apresentou uma versão reduzida do seu espetáculo Maior, que estreou no ano passado. Além de músicas autorais, a cantora e regente evocou nomes clássicos da música popular brasileira, como Belchior e Milton Nascimento – canções para resistir e que, mais do que nunca, são atemporais.
Uma mulher preta de voz potente deu sequência e finalizou a festa: Indiana Nomma, a cantora hondurenha-brasileira que emocionou professoras e professores em dezembro de 2019, quando esteve em Fortaleza para abrir as comemorações dos 40 anos da ADUFC. O movimento docente pediu e ela esteve de volta com seu Tributo à Mercedes Sosa, não apenas pela beleza de seu canto, mas ainda pela firmeza na luta por tudo o que a ADUFC também acredita: os direitos das mulheres e a valorização do que é humano, social e do que é público.
Para a professora Irenísia Oliveira, vice-presidente da ADUFC, o show ILUSTRÍSSIMAS foi uma forma de “felicidade e sorte” que a entidade se propôs a compartilhar com todas as amigas e todos os amigos da educação pública. “Da maneira como compreendemos a educação, a partilha é o próprio cerne do nosso trabalho. Uma professora, um professor não transmite algo; ela ou ele partilha e constrói um conhecimento comum com outros seres humanos”, acolheu ela, convidando o público à reflexão no início da festa. “Não existe educação, assim como não existe arte sem partilha. Paulo Freire nos mostrou e viveu essa verdade simples e transformadora. Assim como Clodomir de Morais, pai de Indiana Nomma”, acrescentou a professora. Ela fazia referência aos educadores que foram tema de uma bonita roda de conversa aberta na sede da ADUFC, e do programa Rádio Debate, na Universitária FM, ambos na última quarta-feira.
ADUFC participa do 8M em Fortaleza
A luta em defesa da vida e dos direitos das mulheres seguiu, com participação da ADUFC, no mesmo fim de semana, quando movimentos sociais, coletivos, partidos políticos e outros sindicatos se uniram a milhares de manifestantes na Praia de Iracema, em Fortaleza. Cerca de 10 mil pessoas realizaram o ato unificado com o tema “Pelas vidas das mulheres: contra o fascismo, machismo, racismo e LBTfobia”, que ocorreu no domingo (8/3), tendo a concentração e encerramento no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, onde a ADUFC também teve uma tenda montada. Pelo menos outras 15 cidades brasileiras realizaram manifestações de rua semelhantes.
Na programação do ato, foram incluídas oficinas, intervenções, rodas de conversa, caminhada e shows, e que não abordaram apenas temáticas feministas, mas também as lutas contra o fascismo, o autoritarismo e a política de retirada de direitos – a exemplo do desmonte das legislações trabalhista e previdenciária, Professores e professoras das universidades federais do Ceará e membros da direção da ADUFC também seguiram em caminhada, que percorreu as avenidas Almirante Barroso e Historiador Raimundo Girão até a Praia de Iracema. A marcha retornou pela Rua dos Tabajaras até o Poço da Draga, voltando em seguida ao local da concentração para o ato político-cultural e shows que encerraram o festival.
“Estamos aqui pelas vidas das mulheres e honrando a memória admirável de Marielle Franco. Estamos cobrando à sociedade nossas irmãs vítimas de feminicídio”, disse a professora Irenísia Oliveira, do Departamento de Literatura da UFC e uma das organizadoras da ADUFC no ato. O número de casos de feminicídios no Brasil aumentou 7,2% no último ano; no Ceará, esse aumento chega a 13% em relação a 2018. Soma-se a isso os ataques do desgoverno à vida e aos direitos das mulheres.