Nota do Grupo de Trabalho de Políticas de Classe e Étnico-Raciais
O mundo contemporâneo sonha com o apartheid, nos diz Mbembe. Será? Em mais um 20 de novembro, para 54% da população brasileira, o que há para comemorar? Os avanços ocorreram, é evidente, contudo, vivemos um momento de inacreditável retrocesso da busca por igualdade de condições. Uma barbárie que nega a diáspora negra, uma história de escravidão e uma condição de desigualdade que se inter-relaciona com tantos outros tipos de desigualdade. Falhamos no combate à barbárie, porque, como alertou Adorno, demos pouca atenção à educação, porque relegamos à educação um papel apenas instrumental, e esquecemos de formar nossas consciências. A violência sempre será amiga da barbárie que é o racismo, portanto, uma condição para a manutenção do racismo na estrutura é a violência – estrutural e institucional. Uma violência que se performa de formas tão sutis, por exemplo, ao se propor e implementar “reformas” que resultam no apartheid social negro. Portanto, ser antirracista é uma condição para o alcance da desejada paz e fraternidade. E o que a educação tem a ver com isso? A educação é e sempre será o caminho para a emancipação e o esclarecimento. Contudo, algo se perdeu e revivemos a barbárie. Os “ecos do ão”, como diz o poeta, estão ressoando vivamente: plantação, escravidão, camburão, concentração, má distribuição, contradição. No fim do dia, nos parece que sim, o mundo sonha vivamente com o apartheid. É a partir dessa reflexão dolorosa e necessária que poderemos construir um sonho de nação, não nos moldes da ilusória democracia racial à brasileira, mas lutando por um futuro de um mundo arracial, como nos pede Fanon.