O Ceará somou-se à Greve da Educação Federal com ações descentralizadas organizadas pelo Comitê em Defesa da Autonomia Universitária durante dois dias. As mobilizações tiveram início nesta quarta-feira (2/10), com atividades pelos três campi da Universidade Federal do Ceará (UFC) em Fortaleza, além da Universidade Federal do Cariri (UFCA) e Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab). Os protestos culminaram em atos de rua unificados em Fortaleza e Juazeiro do Norte, hoje (3/10), com o tema Educação e Soberania não se vendem, se defendem! E se encerram com ato show na Concha Acústica. Foram 48 horas de paralisação nacional.
Na Capital, os manifestantes concentraram-se durante café da manhã nos jardins da Reitoria da UFC, no bairro Benfica, e partiram em caminhada, no início da manhã, em direção às ruas do Centro, até a Praça Murilo Borges – em frente à sede da Justiça Federal. Em Juazeiro do Norte, a concentração ocorreu em frente à Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede 19). Formado pelo Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (ADUFC-Sindicato), Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais no Estado do Ceará (Sintufce) e União Nacional dos Estudantes (UNE), o Comitê enfatizou a importância da luta conjunta em defesa da educação e da soberania nacional.
“Vivemos um momento de intervenção na UFC por um governo anti-democrático que elegeu estudantes e professores como inimigos. Não podemos ficar calados. Lutar contra o Future-se é lutar contra a privatização da universidade pública”, disse o presidente da ADUFC. Bruno Rocha. O professor referia-se a um dos principais pontos do manifesto – o programa anunciado em julho último pelo Ministério da Educação (MEC) e que prevê mudanças profundas não apenas na estrutura administrativa, como ainda na gestão orçamentária e no financiamento das instituições federais de ensino superior. Desde então, o Future-se tem sido repudiado pelas comunidades acadêmicas de quase todas as 68 federais. Rocha enfatizou ainda a luta incessante contra a intervenção pela qual vem atravessando a UFC, com a nomeação do candidato menos votado pela comunidade universitária, professor Cândido Albuquerque.
Já na fala de Liz Filardi, membro da União Nacional dos Estudantes (UNE), foi destacada a preocupação com a recente aprovação no Senado do texto-base da Reforma da Previdência. “Isso pode significar o fim do Prouni e de bolsas de estudo. Mais de 400 mil estudantes podem ficar sem acesso à universidade pública”, ponderou. Naiane Holanda, estudante de História da UFC defendeu a universidade de pública e afirmou que vai lutar por ela: “Sou negra e venho da periferia. Sou a primeira pessoa da minha família a entrar no ensino superior público. Não quero ser a última. A UFC também foi feita pra mim, estudante periférica que tem direito à educação superior”.
Mobilização no Cariri e na Unilab
Na Unilab, em Redenção, a comunidade estudantil debateu, durante os dois dias, a proposta de privatização da educação brasileira através do programa Future-se. As rodas de conversa ocorreram no Pátio do Auroras e do Palmares 2. Em Juazeiro do Norte, a UFCA foi representada por seus estudantes e servidores docentes e técnico-administrativos em uma caminhada que durou toda a manhã desta quinta-feira (3), com início em frente à Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede 19).
No dia anterior, várias ações de mobilização também foram realizadas,
como: café da manhã no pátio da universidade (com apoio do Sintufce); debate
sobre o decreto 9.991/2019 – Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoas, licenças
e afastamentos, na sede da ADUFC-Cariri; evento “Venha ver imagens do
Nordeste”, uma exibição seguida de debate comemorativa dos 50 anos do filme “O
Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro” e “Visão de Juazeiro”; e, no fim do
dia, mais um debate sobre a importância da paralisação deste dia 3. Esta
última, atividade realizada pelo Comitê em Defesa da UFCA – atualmente em
processo de criação.
Movimento recebe apoios
O ato de rua em defesa da educação recebeu apoio das centrais sindicais que atuam no Ceará e das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, além de diversos sindicatos e movimentos sociais. Ocorrendo no mesmo dia em que a Petrobras completa 66 anos, a manifestação em Fortaleza – assim como em outras capitais – teve a participação dos petroleiros, que também lutam pela soberania nacional. A defesa da estatal e das empresas públicas foi uma das pautas dos protestos desta quinta-feira e da caminhada até o Centro de Fortaleza.
Programação estendida
As 48 horas de paralisação em defesa da educação e da soberania se estenderam, em Fortaleza, com uma aula pública durante a tarde no auditório da ADUFC. O tema “Future-se e o perfil dos estudantes das universidades no contexto das políticas de cotas e do Prouni” foi apresentado pelos professores Ruy de Deus e Mello Neto e Tânia Batista, ambos da Faculdade de Educação (Faced), da UFC.
O início da noite entrou com a atividade do Projeto de Extensão “Ouvindo Letras: conversas semanais a música brasileira”. No Auditório José Albano (campus do Benfica), o Grupo de Pesquisa Discurso, Cotidiano e Práticas Culturais (Discuta), do Departamento de Letras Vernáculas da UFC, trouxe o tema “Os sonhos não envelhecem: Milton Nascimento e o Clube da Esquina”. As manifestações se encerram no fim da noite, com o Ato show: Educação e soberania não se vendem, se defendem!, na Concha Acústica da universidade. Cerca de 15 atrações musicais que apoiam a defesa da autonomia universitária confirmaram presença. Entre eles, Nayra Costa, Daniel Groove, Parayba e Cia Bate Palmas, Renegados e Jonnata Doll.
Confira mais fotos do ato “Educação e Soberania não se vendem, se defendem”: