Ao refletirmos sobre a crise econômica que atualmente se abate sobre todos nós brasileiros, inicialmente é preciso fazermos uma conexão com o panorama internacional. Afinal de contas, numa economia globalizada, qualquer movimento dos mercados fora do país produz consequências no Brasil. Todavia, é importante ressaltar que o índice de vulnerabilidade da economia brasileira, em qualquer cenário, interno ou externo, historicamente sempre fez parte dos ingredientes que têm contribuído para agravar o nosso quadro econômico.
Nos anos 1980 dizia-se que: “Se os Estados Unidos espirrassem, o Brasil gripava”. Apesar de termos conseguido melhorar em alguns fundamentos macroeconômicos, como por exemplo, a elevação do valor das nossas reservas internacionais, ainda assim sofremos com um alto grau de vulnerabilidade. Um estudo feito pelo Federal Reserve (FED), o Banco Central americano, coloca o Brasil entre os 15 países mais vulneráveis.
A despeito desta característica de vulnerabilidade, até 2008 a economia brasileira conseguiu crescer em razão da opção da equipe econômica à época pelo incentivo ao mercado interno. Porém, com a deflagração da crise imobiliária nos EUA as taxas de juros dispararam ocasionando uma pressão inflacionária no Brasil, houve a elevação da cotação do dólar, obrigando o governo a começar a restringir o crédito, sobretudo ao consumidor.
Outro aspecto externo que nos afetou e contribuiu para chegarmos ao atual momento da economia foi a queda brutal do preço do barril do petróleo no mercado internacional, com impactos importantes na nossa Balança Comercial. Além disso, a crise de 2008 também afetou a China, um dos nossos mais importantes players e o principal mercado das commodities brasileiras.
Todos esses fatores fizeram com que o governo brasileiro interviesse no mercado ao ajustar a Taxa Selic para cima e ainda fazer ações de “Hedge” para conter a escalada do dólar. Essas medidas provocaram aumento do Déficit Público, com a obrigação de emissão de mais títulos do tesouro para financiar a Dívida Pública.
Assim como no Brasil, na Europa, países como a Grécia, Portugal, Espanha buscaram alternativas para lidar com o crescimento desordenado do endividamento público cortando gastos, como a elevação de impostos e o aumento da taxa de juros.
Esses países buscaram também o apoio da Zona do Euro e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para tentar equilibrar as contas. Entretanto, para conseguir financiamento, eles tiveram que submeter-se à “cartilha” do FMI cujas medidas são de austeridade fiscal e de arrocho para a classe trabalhadora.
O caso não é diferente do brasileiro. A atual equipe econômica do governo parece rezar pela mesma “cartilha” dos economistas europeus. Aqui a tentativa de cortar os gastos públicos por meio da redução ou extinção de programas sociais, além da investida contra os direitos trabalhistas e previdenciários dos trabalhadores são ações impopulares que têm levado a população e a sociedade civil organizada às ruas, aos moldes do que vimos acontecer na Grécia, Itália, Espanha e Portugal.
A questão previdenciária, que foi eleita como uma das vilãs do desequilíbrio das contas aqui no Brasil e também nas economias europeias carece de melhor compreensão. Na verdade, o discurso do déficit previdenciário é muito mais ideológico do que propriamente técnico. Há controvérsias quanto aos números de déficit apresentados pelo governo federal. Especialistas apontam erro de origem na apuração do saldo da previdência, para eles os cálculos do governo federal retiram a previdência do Sistema de Seguridade Social, o que é um equívoco.
Dessa forma há um déficit artificial das contas previdenciárias. Por outro lado, há uma pressão política oriunda do setor financeiro privado para que o governo abra mão desse serviço para dar lugar às previdências privadas, administradas pelo mercado bancário.
É inegável que a economia brasileira enfrenta um dos momentos mais delicados dos últimos anos. Entretanto, o Brasil é uma economia forte, somos a 7ª economia mundial e o maior mercado da América Latina, cujos fundamentos apresentam condições plenamente possíveis para uma recuperação no médio e longo prazos.
Com uma gestão eficiente e qualificada, focada na ética pública, é possível retomar o crescimento, desde que o país alinhe a sua economia a uma política de distribuição de renda que contemple a maioria da sociedade, acompanhada de uma reforma tributária justa que alcance as grandes fortunas e uma política de juros responsável.
O Brasil é um país rico, possui uma larga extensão territorial onde encontram-se recursos naturais de grande valor agregado e ainda uma oferta de mão de obra abundante em todos os setores da economia. Fundamentalmente a economia é amparada por decisões políticas que refletem diretamente na vida das pessoas.
Portanto, é necessário que haja um projeto de país comprometido com o crescimento econômico sustentável, que incentive o setor produtivo a gerar emprego e renda e que remunere dignamente o trabalhador. A letra do nosso hino afirma que o Brasil é “gigante pela própria natureza” – que esse gigante desperte para, afinal, assumirmos o papel de protagonismo que merecemos e contribua para melhorar a vida das pessoas.