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EDUCAÇÃO E DEMOCRACIA – ADUFC participa de debate ao vivo na Rádio Universitária FM

Como parte das ações de diálogo com a sociedade e a divulgação de sua recém-lançada campanha “Educação em Defesa da Democracia” a ADUFC-Sindicato participou do Rádio Debate, nesta sexta-feira (13/5). Os entrevistados debateram sobre como a qualidade da educação tem reflexos na democracia e vice-versa, diante de um cenário em que o país se debruça sobre pilares democráticos enfraquecidos e no qual a educação, profundamente afetada, vira cada vez mais um terreno de disputa. O programa foi transmitido, ao vivo, pela Universitária FM e também pode ser acessado pelas plataformas digitais da emissora.

Para discutir a temática no programa, o Prof. Roberto da Justa, do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (FAMED/UFC), representou a diretoria da ADUFC. Ele teve a companhia de outros dois professores: Daniel Cara, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), ex-coordenador da Campanha Nacional em Defesa da Educação; e Roberto Leher, da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de onde também foi reitor (2015-2019).

O diretor da ADUFC lembrou que o sindicato acaba de completar 42 anos celebrando a ocasião também com o lançamento de uma campanha em caráter permanente. “Não foi à toa que escolhemos o tema ‘democracia’ para trabalhar. Nossa expectativa é interagir com toda a comunidade acadêmica, dialogar, escutar as pessoas, nessa perspectiva de defender a universidade pública socialmente referenciada e libertadora, como defendeu Paulo Freire”, argumentou Roberto da Justa. O docente adiantou que a ADUFC está construindo uma agenda de debates e outras ações sobre a temática, e que será tocada durante todo o ano de 2022.

Em suas falas, os debatedores aprofundaram questões que pontuam o que se apresentou no início do programa: além da desestruturação de políticas da área e impactos da pandemia, a educação é terreno de cada vez mais disputa de concepções sobre ensino, formação e até do caráter do trabalho de educadoras e educadores. Além de discutirem o próprio sentido de democracia. Numa visão apontada por ele como “bastante limitada” da democracia contemporânea, Daniel Cara referiu-se como uma forma de decisão sobre quais são os representantes e como eles operam os temas de interesse da população em geral: “Mas num país como o Brasil, tão desigual, isso não resolve o problema. Democracia precisa ter uma face mais ampla. A democracia brasileira nunca deu conta de garantir os direitos sociais e eles estão cada vez mais distantes”. 

Roberto Leher corroborou o discurso do colega e lembrou que a democracia no Brasil está sob severa ameaça. “Vivemos um quadro de profunda instabilidade política e perto de um processo eleitoral em que o presidente da República, de forma muito explícita, busca interferir no processo eleitoral, deslegitimando a forma de consulta popular”, disse. O docente também fez ponderações sobre a necessidade de um exercício crítico da democracia e que requer a universalização dos fundamentos da igualdade social. “Entre estes, se destaca a educação pública. É ela que forma um cidadão insubmisso, que é exatamente o que nós precisamos. E é ela um dos elementos que instituem a democracia numa determinada nação”, enfatizou.

Nesse sentido, o diretor da ADUFC acrescentou à argumentação dos colegas o diálogo direto entre educação e democracia. Como todos os direitos fundamentais, a educação depende fundamentalmente de que todo esse processo de garantia da democracia esteja protegido e, por outro lado, a democracia depende da educação porque uma sociedade que não tem educação não consegue preservá-la”, comparou. Roberto da Justa também relembrou que a ameaça à democracia vem ocorrendo em nível nacional e global e que  há repercussões dentro das universidades públicas: “Como vemos hoje a criminalização das universidades, da ciência, da pesquisa… e a universidade é fundamental no combate a esse processo de defesa da democracia”, exemplificou.

Luta em defesa da educação e da democracia não é de hoje: na UFC e nas ruas, Comitê em Defesa da Autonomia Universitária, criado em 2019 (Foto: Nah Jereissati/ADUFC-Sindicato)


Impactos no ensino superior: da guerra cultural às intervenções

Durante o programa, os debatedores também alertaram para a “guerra cultural” que vem acontecendo em diversos países e que, na visão do Prof. Leher, “deseduca a população”. Para ele, é uma maneira deturpada, dogmática e fundamentalista de pensar a educação. “Essa forma de tentar tolher, de modificar o teor da educação não se dá apenas no plano das ideias. É muito mais profundo. A lógica da guerra cultural quer a destruição do que existe”, explicou o ex-reitor da UFRJ. Ele pontuou, por exemplo, que os cortes orçamentários dos repasses federais para a educação pública não decorrem de um problema econômico no país, mas “é um ato de guerra cultural para inviabilizar a existência dessa estrutura educacional e científica”.

E como essa guerra cultural afeta as universidades públicas? Para Roberto da Justa, elas estão no centro desse processo de ataque e ameaça à democracia porque são espaço privilegiado para o pensamento livre e, ainda, o Brasil evoluiu, nas últimas décadas, em seus processos de produção de conhecimento, de recursos humanos e de ciência. “E isso tudo atrapalha esse processo de tentativa de implementação de um modelo fascista de governo”, afirmou o diretor da ADUFC, lembrando que o processo de expansão do acesso à universidade pública que se deu nesse ínterim, começou a ser vetado a partir de 2016 com o governo Temer. “E esse desmonte continuou no governo atual, em todos os níveis. Há perda de espaços internos pro diálogo e para o exercício da democracia dentro da universidade também”, lamentou.

Questionado sobre os impactos da pandemia de Covid-19 no contexto do ensino superior público no Brasil, Justa lembrou que eles são “enormes” mas que ainda  estão sendo contabilizados. “Tivermos perdas humanas, o que talvez seja o mais doloroso” e muitas do ponto de vista pedagógico, como a gestão inadequada dessas instituições, apontou Roberto da Justa, lembrando da situação da própria UFC: “A ADUFC denunciou condutas que enviesaram pelo negacionismo, numa gestão que consideramos sob intervenção porque o representante que ocupa a cadeira de Reitoria não foi legitimado pela comunidade acadêmica”. Foi ainda dentro do contexto da pandemia, destacou o professor, que “tivemos os conselhos esvaziados, a eliminação da representação estudantil no Consuni (Conselho Universitário), além de perseguições que ocorreram dentro da universidade.

(*) Ouça esta edição do programa Rádio Debate na íntegra, acessando o Spotify ou demais agregadores de podcasts, como Deezer ou Apple.

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