Professores e professoras celebraram os 42 anos de história da ADUFC, na última sexta-feira (29), com festa, debate e homenagem (in memorian) à Profª Izaíra Silvino (1945-2021), primeira regente do Coral do sindicato. O evento marcou o lançamento da campanha permanente Educação em Defesa da Democracia e contou com a presença de convidados que fazem parte da trajetória da ADUFC. Essa foi a primeira confraternização presencial dos últimos dois anos, desde o início da pandemia, na sede da entidade em Fortaleza.
“Esse é um momento de muita emoção para todos nós da Diretoria, e para essa diretoria especialmente, que foi eleita durante a pandemia (…). Estamos felizes com esse clima de celebração, reencontro, de ver a ADUFC viva”, ressaltou o presidente do sindicato, Prof. Bruno Rocha, na abertura do encontro. “São 42 anos de luta intensa por uma universidade pública, gratuita e de qualidade, que possibilite os filhos da classe trabalhadora entrarem na universidade”, acrescentou.
Bruno Rocha enfatizou a importância da campanha Educação em Defesa da Democracia, lembrando que a iniciativa partiu da própria base do sindicato, nos espaços de debate e deliberação coletiva. “A gente lança essa campanha, que vai durar o ano inteiro, sabendo que, mais do que nunca, a defesa da democracia é tão fundamental. No acumulado de todas as nossas assembleias gerais, o anseio da nossa categoria era de valorizar a educação pública, o serviço público”, detalhou.
O aniversário foi marcado por apresentações musicais do Coral da ADUFC e do Coral dos Amigos de Izaíra Silvino (Cais), com tributos à homenageada da noite. A Profª. Lena Espíndola, diretora de Assuntos de Aposentados do sindicato, leu um texto em homenagem à colega antes do descerramento da placa com o nome da docente, que agora empresta o nome ao Auditório da ADUFC. “Ela não se foi, está no nome deste auditório, está em nossas saudades, em nossas boas recordações”, saudou a docente.
Debatedores defendem “radicalização da democracia” para superar crise
A noite de celebração contou com um debate sobre a temática do evento e da campanha lançada pela ADUFC. Os convidados da noite, os professores Daniel Cara (USP) e Roberto Leher (UFRJ), abordaram desafios atuais e urgentes na defesa inegociável da democracia e da educação pública. Também estavam na mesa as professoras Lena Espíndola e Irenísia Oliveira, vice-presidente da ADUFC, que mediou a conversa.
“A gente tem que colocar algo à frente dessa construção de agenda, que é discutir o que é a própria democracia (antes de discutir como a educação se insere nessa defesa)”, apontou Daniel Cara, que foi coordenador da Campanha Nacional em Defesa da Educação e reconhecido pelo Parlamento brasileiro, em 2015, como a principal liderança da sociedade civil na promoção do direito à educação no Brasil. “A gente tem de discutir a democracia com base em temas muito concretos. Não dá pra simplesmente fazer uma adesão sem discutir qual a qualidade da democracia que a gente promove”, defende.
Para o pesquisador, é fundamental a construção de projetos políticos que contemplem uma concepção sistêmica sobre a educação. “Ter um pensamento radical sobre o que é educação, que comece na creche e chegue à universidade”, explica. Ele também acredita ser necessário avançar no enfrentamento político ao atual governo federal a partir de ações que extrapolem o processo eleitoral. “Vencer o Bolsonaro está distante de significar vencer o bolsonarismo. A vitória eleitoral é ineficiente em relação a essa vitória política”, opina.
Durante sua fala, o Prof. Roberto Leher fez um retrospecto histórico sobre a atuação do movimento sindical docente nas lutas em defesa da democracia. Ex-presidente do ANDES-SN, ele citou a criação do Sindicato Nacional e de suas seções sindicais nos estados, que coincide com o período de lutas pela redemocratização no país, no desfecho de uma época sangrenta e intransigente imposta pela ditadura militar.
“Rememorar a criação deste sindicato, 42 anos atrás, é muito importante. Os anos da criação das nossas seções sindicais (final dos anos 70, início dos anos 80) marcam um processo histórico em que a classe trabalhadora, em toda sua polissemia, adentra a cena histórica, e faz isso de uma maneira extremamente impetuosa e radical”, disse o ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Temos que escutar muito, ler muito, conhecer o que se passou naqueles anos”, sugere.
Roberto Leher alertou para o processo de fascistização vivido no Brasil de hoje, governado por um presidente da República que flerta com um regime autoritário e excludente. “Nós temos de derrotar Bolsonaro este ano. Não há possibilidade de enfrentar um cenário que envolva mais quatro anos. Estamos num processo de fascistização sem precedentes”, reforça. “Nossa principal tarefa é construir frentes, programas, agendas, lugares de encontros, porque temos de adensar as agendas que vão muito além de uma circunstância de coalizão que vai passar pela centro-direita”, pontua.
A vice-presidente da ADUFC, Profª. Irenísia Oliveira, também destacou a importância de se conhecer a memória das diferentes lutas para reconhecer caminhos de enfrentamento ao autoritarismo. “Cabe a nós descobrir essas energias que estão lá atrás, nessas histórias que se acumularam. É preciso fazer essa campanha Educação em Defesa da Democracia, trabalhar para entender que o conceito de democracia está em construção”, salientou.
Já a Profª. Lena Espíndola rememorou sua trajetória como presidente da ADUFC, no fim dos anos 1990, e citou várias passagens da obra de Paulo Freire. “A educação é um ato fundamentalmente político”, reforçou, em referência às palavras do educador. “Parabéns à ADUFC e a todos que fazem seu trabalho sindical e sua atuação política em nome da educação e da democracia”, concluiu a docente, que acaba de assumir a presidência da Associação de Docentes Aposentados e Pensionistas de Docentes da UFC (ADAUFC).
O aniversário do sindicato foi encerrado de forma festiva pelo show Brasilidades, com os músicos Marcelo di Holanda e Mateus Farias. O momento marcou a reinauguração do Bar da ADUFC – espaço de encontros, conversas e confraternizações de docentes. A organização da festa de 42 anos da ADUFC foi uma iniciativa conjunta dos Grupos de Trabalho (GTs) de Comunicação e Cultura e de Previdência Social do sindicato.